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7° Dia: Uma máquina, Uma Proibição e Um Vinho - Retribuindo a Hospitalidade em Hamburg

Atualizado: 24 de ago. de 2021

Hamburg, 13/06/2018 quarta-feira


Amanhã faremos o primeiro trecho rumo ao sul, mas hoje é dia de tentar retribuir de alguma forma as gentilezas do Gerhard. Tudo o que tentamos ele não aceitou, mas ontem à noite ele deu uma abertura, pois estava aborrecido com a falta de iniciativa de seu neto, morador do andar de cima, em consertar sua própria lavadora de roupas e, ao invés disso, prolongar o uso da estrutura do avô.


Gerhard é um Gentleman, sempre disposto a ajudar onde for necessário, mas é também muito econômico e organizado, por isso não gosta quando bagunçam essas áreas. Não perdemos tempo, ontem mesmo Gilson verificou a máquina e não encontrou problema mecânico. Tratava-se um equipamento relativamente novo e bem conservado, mas com indício de que algum produto de limpeza ou higiene tivesse caído sobre o gabinete da máquina e vazado para o interior onde fica posicionada a placa eletrônica. Pesquisamos na internet por uma empresa para comprar uma placa substituta, mesmo que fosse usada. Pela manhã visitamos duas empresas para saber como trabalhavam e levamos cartões de visita para deixar com Gerhard, mas antes fizemos a tentativa de encontrar uma reposição num centro de reciclagem.


Seguimos as orientações do Google Maps até o Recycling Center Harburg, e ficamos desconfiados que não fosse o lugar certo quando chegamos, porque era muito diferente dos que conhecemos no Brasil. Havia uma guarita com um recepcionista muito atencioso e simpático. O espaço não era grande, muito limpo e cercado, organizado cartesianamente em setores com enormes contêineres identificados com adesivos informando a espécie de material que coletavam e com espaço suficiente entre eles para circular com pequenos caminhões. Havia meia "quadra" destinada ao lixo eletrônico, havendo inclusive algumas lavadoras de roupas, mas não havia possibilidade de negociações. Diferentemente do Brasil, os Centros de Reciclagem na Alemanha são terceirizados e lucram com o que recolhem ou é depositado ali. Os materiais passam pela triagem assim que chegam, e ninguém se atreve a misturar os materiais. Há diversas destinações, da reciclagem à queima do refugo para produção de energia.


Fomos guiados num tour pelo gerente do Centro, que foi muito atencioso, mas pediu para não fotografarmos porque seria necessária uma autorização por escrito de seu superior no escritório central de Hamburg. Havia várias regras de segurança pessoal e industrial, fomos informados que os funcionários estariam sujeitos à demissão sumária se algum produto ali fosse vendido/doado para terceiros. Enquanto circulávamos entre os contêineres das pequenas quadras vimos vários carros particulares entrarem e seus ocupantes descartarem objetos nos locais adequados. Três bicicletas de alumínio quase novas, móveis em bom estado, utensílios domésticos antiquados, tapetes e têxteis, tintas e produtos químicos, lâmpadas... Ficamos impressionados, e por que não dizer chocados, com o descarte de artigos que ainda tinham a possibilidade de uma longa vida útil, mesmo que em outras mãos.


O senhor que descartava as bicicletas percebeu que o observávamos e, mesmo procurando não demonstrar nosso choque, ele sentiu necessidade de justificar seu descarte, mas se contradisse afirmando que no pós-guerra tudo aquilo teria sido um luxo que ele teria adorado ter acesso. Lembrei imediatamente de Anne Leonard, que foi rastreadora do destino dos lixos do mundo durante muitos anos, a serviço do Greenpeace. Criadora do projeto "A História das Coisas", em seu livro com o mesmo nome ela conta que seriam necessários 5 planetas Terra para suprir a voracidade de consumo da humanidade se toda população humana seguisse o mesmo padrão de consumo dos estadunidenses ou dos europeus... O que tínhamos visto até então do modo de vida dos alemães em relação à economia e sustentabilidade, e que achamos tão positivo, não era o padrão geral. A sociedade alemã é incrivelmente organizada e eficiente e isso também se aplica a administrar os lados negativos. Saímos dali sem placa eletrônica para reposição e pensativos.


Com o resto do dia livre, decidimos passear em torno do parque de Harburg e almoçar no shopping. Deixamos a moto no estacionamento do terceiro piso. Estranhamos mais uma vez que não havia vagas para motocicletas e perguntamos a um outro cliente se ele sabia onde poderíamos estacionar. Ele respondeu que deixássemos a moto numa vaga normal mesmo. Depois descemos para almoçar na praça de alimentação. Entramos na fila do buffet tailandês, cheia de trabalhadores em sua hora de almoço. Valeu muito, foi super econômico, saudável e delicioso. Para um vegetariano como eu, buffet sempre é uma boa alternativa. Aproveitamos para usar os banheiros mais limpos que já vi na vida, mas com acesso bem caro. Algumas adolescentes, percebendo que éramos estrangeiros, nos ensinaram como entrar sem pagar... Elas passaram burlando, nós não quisemos seguir o exemplo.


Ainda faltava uma tomada de energia na moto para manter a bateria do celular carregada e um celular para Gilson que, sem seu próprio celular, ficava monopolizando o meu e gastando bateria e os dados do pacote de internet com o WhatsApp. Compramos uma fonte de 12V-5V, daquelas que se adaptam a acendedor de cigarros para automóveis, numa das lojas do shopping. Perguntamos onde poderíamos encontrar celulares usados e nos indicaram uma loja turca de eletrônicos no outro lado da rua. Era uma lojinha que parecia ser da 25 de março, todos os clientes pareciam ser de origem muçulmana. Ali não havia celulares usados, mas ofereceram um celular russo, Samsung J1 Mini a 100 euros. Cansados e sem vontade de continuar perdendo tempo com esse assunto, negociamos o celular até baixar a 70 euros. Só mesmo na loja de um turco isso seria possível na Alemanha, mesmo assim ficou pelo mesmo preço que no Brasil.


De volta ao shopping paramos para comer numa padaria-confeitaria, pedimos um café e uma fatia de torta. A atendente esta ansiosíssima para demonstrar sua agilidade e eficiência e colocou sorridente duas xícaras de café sobre o balcão. Agradeci e disse que queríamos apenas uma (Gilson já é agitado por natureza e fica mal quando bebe estimulantes). Mais que depressa, ela retirou a segunda xícara e foi buscar a fatia de torta, desta vez com a cara amarrada... Essa necessidade dos alemães em demonstrarem sua eficiência às vezes é bem irritante e, como aconteceu naquela confeitaria, acaba ficando até cômico.


Terminadas as obrigações do dia, faltava apenas comprar algumas coisas para comer durante a viagem que começaria no dia seguinte. Subimos, pagamos o estacionamento e pegamos a moto. Na saída a cancela não abria com a inserção do cartão no leitor ótico. Tentamos outra cancela e nada. Acionei o interfone e informei o problema, a resposta vociferou aquele estacionamento era proibido para motos. Mantive a calma e informei que éramos turistas estrangeiros e que não tínhamos visto a placa da proibição, então abriram a cancela e saímos. Lá em baixo procuramos a tal placa, ela estava lá, beeeem grande, mas não a identificamos como proibitiva porque não tinha a tarja vermelha cortando o círculo vermelho. Foi um vacilo, tínhamos esquecido que as placas de proibição nem sempre tem a tal tarja diagonal vermelha. Mas depois daquela experiência não esqueceríamos mais.


Depois das compras no supermercado Rewe voltamos para casa e encontramos uma bela reunião no pátio da frente. Brigitte, seus inquilinos e Gerhard estavam sentados lado a lado nos degraus das escadas bebendo vinho verde português acompanhado de cubinhos de queijo. A caixa do vinho português foi um presente enviado por um amigo. Estava frio e nublado, soprava uma brisa úmida pelo corredor entre as casas, mas isso não esfriava o ânimo dos inquilinos de Brigitte, que reformavam seus móveis, e de seus alegres assistentes. Perguntaram qual programa turístico tínhamos feito naquele dia e acharam o máximo quando contamos nossa experiência no Centro de Reciclagem. Contaram que o que tentamos fazer naquele dia é comum aos sábados, quando uma longa fila de carros se forma na entrada do Centro e os negociadores particulares abordam os motoristas oferecendo comprar os produtos antes de serem descartados. Nos juntamos àquela roda e entramos no clima de amizade, descontração e colaboração, seria nossa última noite juntos antes de nos despedirmos e rumarmos ao sul.



 

O DIA EM NÚMEROS:


DESLOCAMENTO:

  • Distância percorrida = 30 km


DESPESAS:

  • Combustível € 0,00

  • Estacionamento € 5,00

  • Transporte público € 0,00

  • Hospedagem € 0,00

  • Alimentação € 35,94

  • Ingressos € 0,00

  • Moto (peças e serviço) € 12,95

  • Presentes € 70,00

  • Outros € 1,50

  • TOTAL € 125,39


SERVIÇO:

 

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