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  • Foto do escritorBárbara

8° dia: "Auf der Autobahn" - Entre Hamburg e Epscheid

Atualizado: 24 de ago. de 2021

Epscheid, 14/06/2018 Quinta-feira


No próximo sábado haverá um encontro de família em Bönen, uma pequena cidade localizada a sudoeste de Hamburg e próxima de Colônia. Então, hoje nos deslocaremos até Epschied, que será nossa base para visitar a parte da família que não vive em Hamburg. Nesse trajeto de 380 km faremos uma curta visita a um tio em Bönen onde deixaremos Gerhard que ficará hospedado na casa do irmão.


Marcamos a saída da casa de Gerhard para as 10 h. Hilla, Gerhard e minha mãe irão de carro e nós os seguiremos de moto. Enquanto esperávamos a hora da saída, Gilson ainda instalou a fonte de 12V-5V como carregador de bateria de celular, e eu cuidei de finalizar a organização da bagagem. Deixamos o anexo da nossa hospedagem limpo e organizado, e com uma mudinha de lavanda com um bilhete de agradecimento para nossa anfitriã, Brigitte.


Hilla chegou 15 minutos antes do horário marcado, ela achou que seria tempo suficiente para despedidas e o início da viagem. Mas nós levamos mais tempo que o esperado para fixar a bagagem na moto e nos despedirmos, assim, os 30 minutos de atraso serviram de gozação sobre a pontualidade à brasileira.


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Não havia nada de especial no trajeto que percorremos pela A7 e A2, era simplesmente o trajeto mais rápido para chegarmos ao destino do dia. Nas autoestradas alemãs as limitações a velocidade são raras e não há cobrança de pedágio, mas ao contrário do que esperávamos, o percurso foi travado pois havia muitas obras de manutenção, principalmente nos acessos e viadutos. A velocidade nesses pontos era limitada a 60 km/h e a sinalização indicava vigilância eletrônica com ameaça de multa. Os motoristas respeitam essa limitação com bastante naturalidade. Hilla é uma motorista exemplar e cuidadosa, atenta ao espelho retrovisor para nos manter no seu campo visual ao mesmo tempo que explora a ausência de limite de velocidade sempre que a estrada permite. O trânsito estava intenso. Havia muitos caminhões, carros de passeio, e vários motorhomes e motocicletas. Os motociclistas que passavam por nós iam se espreguiçando, indicando que estavam na estrada desde cedo e sem descanso.


Embora a moto seja muito confortável, Gilson fixou a bagagem de uma forma que me incomodou bastante e deixou o percurso nada prazeroso. A moto andava muito bem em velocidades altas, mas nas baixas rotações não correspondia à expectativa. Gilson suspeitava de problema no carburador ou no filtro de ar e pretendia verificar isso nos próximos dias. Além disso, ele ainda estava debilitado pela prostatite, abalado por não saber o resultado dos exames e com tratamento evoluindo lentamente. Tenso e cansado, paramos diversas vezes nos Rastplätze (pontos de parada e descanso) onde ele pode relaxar, chegou até a tirar um cochilo de 15 minutos deitado num banco de madeira.


Hilla, que é extremamente econômica, não parava nos postos de combustíveis onde tudo é mais caro. Ela conhecia todos esses Rastplätze ao longo do trajeto e dava preferência para aqueles que tinham banheiros gratuitos, nem sempre tão limpos como seria de desejar, mas que todos usamos. Quando voltei de um desses banheiros Gilson, que estava fotografando tudo o que via, me chamou para fazer uma selfie junto da moto. Uma estranha simpática que descansava com a família ao nosso lado, percebeu nossa dificuldade de enquadrarmos os três na foto e se ofereceu para fazê-la, mas disse que tinha que ser com beijo. Gilson não fala alemão, mas entendeu a sugestão. Gosto muito dessa imagem, ela retrata bem o momento e conseguiu até pegar a Hilla no pano de fundo, sorrindo pelo que via. Acabei perdendo todos os registros feitos com meu celular nesse dia, salvaram-se apenas esses dois do beijo e o vídeo porque haviam sido compartilhados por WhatsApp.


Não conhecíamos o consumo médio da moto que não é equipada com sensor de nível de combustível. Gilson estimou que o tanque de 17,5 litros seria suficiente para percorrer 260 km. Combinamos de parar para abastecer quando chegássemos próximos a 245 km, mas deveríamos ter deixado uma margem de segurança maior. O problema aconteceu quando estávamos com 242 km rodados, no meio de um trevo fechado para manutenção, e as três pistas convergiram para duas. Ficamos na pista da direita entre dois caminhões que desaceleravam no início da obra, quando de repente a moto começou a engasgar. Gilson se abaixou e tentou abrir o registro do tanque para liberar o combustível reserva, ficou forçando, mas estava emperrado. Caramba! Não havia acostamento naquele ponto, no nosso lado direito só o paredão de uma montanha cortada para a passagem da estrada. Pelo retrovisor vi o olhar de concentração do caminhoneiro segurando o caminhão que crescia no espelho retrovisor. Foi tudo muito rápido. O registro da reserva abriu, o combustível fluiu, o motor voltou ao normal, Gilson acelerou, mudou de faixa, ultrapassou Hilla já fora da zona de obra e sinalizou para pararmos no próximo ponto de descanso.


Foi um susto! O fato é que, além do risco óbvio, pane seca é punida com suspensão da carteira de motorista e uma multa beeeem salgada. Naquela parada combinamos de abastecer num posto que o Maps indicava ficar numa cidadezinha a 7 km dali. Depois do susto, Gilson voltou a ser o piloto confiante de sempre e seguiu como batedor.


Uma das várias áreas de desaceleração antes de obras na autoestrada.



Chegamos à casa do tio Manfred para o café da tarde com uma hora de atraso. A casa dele ficou pequena para tanta gente. Enquanto estávamos conversando, chegou uma assistente social para ver se ele estava bem. Ela vem a cada dois dias e o ajuda nas tarefas e providências diárias, é um serviço amparado pelo Estado para que pessoas com necessidades especiais ou idosos tenham condições continuarem a viver sozinhos. Mais tarde chegou uma enfermeira que o ajuda diariamente com a troca das bandagens nas pernas, esse é um serviço oferecido pelo seu plano de saúde. Ele é mineiro de minas de carvão aposentado e desenvolveu pneumoconiose, a doença do mineiro, precisando de oxigênio à mão para manter-se bem. Morando sozinho num apartamento térreo alugado, tem a companhia de dois gatos curiosos e peludos que parecem gostar muito de estar ali. As paredes do apartamento exibem fotos de amigos e da família e alguns lindos quadros pintados pelo meu primo retratista. Enquanto admirava os quadros e Gilson brincava com os gatos, ecoava a potente, rouca e grave voz do tio que apesar da dificuldade pulmonar seria capaz de fazer-se ouvir sem microfones e caixas de som numa multidão. Ele nos recebeu afetuosamente e ficou curioso e animado com nossos planos de viagem. Duas horas depois nos despedimos de Manfred e Gerhard, que ficaria com o irmão até o retorno a Hamburg, e seguimos pela auto-estrada até Epscheid, onde ficaremos nos próximos dias.

No trecho final começou a chover e tivemos que parar para vestir nossas capas de chuva. Próximos ao destino final, paramos novamente para abastecer. Depois da experiência desse dia, Gilson decidiu não mais abastecer com o combustível Super E10, que contém 10% de etanol, e passar a abastecer apenas com e a Super ou Super Plus, numa tentativa de melhorar o rendimento e a conservação da nossa forte e cheia de personalidade senhora de meia idade em duas rodas, que não foi fabricada para o combustível com adição de álcool.


Parados ali naquele posto em Hagen era nítida a mudança da paisagem: saímos da planície pantanosa costeira de Hamburg e ingressamos no Estado de Sauerland, região montanhosa coberta de floresta mista. O caminho agora seguia ziguezagueando montanhas acima, até chegar no dorso descampado e povoado por pequenas aldeias e propriedades rurais familiares. Na entrada de Epscheid fomos recedidos pelo impactante e intenso cheiro amoniacal de estrume bovino que vinha de um enorme galpão. No dia seguinte minha tia iria se referir a ele como lugar de tristeza e sofrimento, comparando-o aos campos de extermínio nazistas, o que me surpreendeu, porque ela não é vegana mas, tem a mesma percepção que estes a respeito desses lugares.


Constante, resiliente, suave e afetuosa, minha tia Margarete nos recebeu como recebe todos que chegam, de braços e coração abertos. Junto com sua filha, preparou uma refeição vegetariana quentinha e saborosa que todos comeram, embora apenas eu seja vegetariana. Ponto novamente para a hospitalidade dos alemães!


As três irmãs provocaram em todos os demais a mesma reação de admiração pelo respeito e afeto genuínos com que elas se relacionam. O enorme quarto de brinquedos, normalmente ocupado pelos netos de Margarete, foi destinado a mim e Gilson e abastecido com água mineral e Marzipan capaz de alimentar uma família inteira, e Gilson adorou. Algumas pessoas conseguem fazer a gente se sentir em casa de uma forma muito singela.





 

O dia em números:


Deslocamento:

  • Distância percorrida = 380 km ≈ Duração = 5h

  • início: 10h30min - Fim: 19h

Despesas:

  • Combustível € 31,44

  • Estacionamento € 0,00

  • Transporte público € 0,00

  • Hospedagem € 0,00

  • Alimentação € 0,00

  • Ingressos € 0,00

  • Moto (peças e serviço) € 0,00

  • Presentes € 0,00

  • Outros € 0,00

  • TOTAL € 31,44

 

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