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5° Dia: Rodando entre cerejas, maçãs, peras, morangos e tijolos vermelhos - Passeio de Moto em Altes

Atualizado: 24 de ago. de 2021


A felicidade não cabe no Gilson (foto: Bárbara Schiemann)

Hamburg, 11/06/2018 - Segunda-feira


Finalmente chegou o grande dia de buscar a moto! Todos os dias Gilson perguntava: - E o Lars, onde anda? - Foi Lars quem sugeriu a compra da moto e cuidou de toda negociação e papelada. Mas, até então nós ainda não tínhamos nos encontrado, pois ele estava viajando. Mas agora estava pronto para nos receber.


Gerhard, mais uma vez, facilitou nosso dia com café da manhã e sugestão de caminhos que dariam belos passeios de moto na volta para Harburg. Também ofereceu suas roupas de chuva e aceitamos sua oferta de bom grado. Depois ele nos levou à estação de trem, onde nos deixou no vagão e retornou caminhando para casa.


Conosco embarcaram estudantes numa excursão escolar, carregados de bagagens, e vimos como um comunicativo menino de traços indianos defendia um colega ausente, e insistia para que os outros sentassem a seu lado, mas ninguém o atendeu. - coisa de cena de cinema... - Foi a primeira vez que tivemos que apresentar nossos bilhetes ao fiscal de transporte, que também orientou alguns garotos onde guardar suas bagagens de forma segura no vagão.


Ao descer para a plataforma da minúscula estação de Horneburg, ouvi chamarem meu nome e vi meu primo Lars galgando os 70 centímetros de altura da plataforma pela lateral externa da estação. Não o via desde meus 20 anos! Fiquei muito feliz em reencontrá-lo e nos abraçamos atrapalhados pela sacola com o capacete que balançava pendurada no meu ombro. Entramos no seu carro, mas só fomos até o supermercado e correio onde Lars estacionou e despreocupadamente deixou a chave na ignição enquanto resolvia seus assuntos. Dali o trajeto foi através do reflorestamento onde seu filho é o engenheiro florestal responsável.


A casa de Lars fica fora da cidade e parecia ter sido revirada por um vendaval. Ele comprou a casa a poucos meses e a estava reformando ele mesmo. Precisava de tempo para dedicar a reforma, mas sendo autônomo, precisava trabalhar mais para ter dinheiro suficiente, um círculo vicioso. Ele mostrou a casa toda contando com orgulho e entusiasmo o que já tinha feito e fumando um cigarro após do outro... Quase não reconheci meu primo descolado de antigamente! Fiquei preocupada e um pouco arrependida de ter me aproveitado da sua boa vontade em nos ajudar. Ele estava terminando de colocar um lindo assoalho na sala, e só nos deixou pisar ali de meias, porque ainda precisava aplicar o acabamento. Adorei a amplidão daquele espaço, sensação reforçada pela janela-vitrine que trazia o exterior visualmente para dentro e, porque não, o interior para fora.


Mas o coração daquela casa era a garagem, um universo de desejos e sonhos já realizados ou em construção. Um deles era o nosso, colocado propositalmente em evidência e imediatamente captou nossos olhares assim que o carro dobrou da rua para entrar no terreno. A moto estava linda! Exatamente como no anúncio, sem maquiagens e tudo indicava ser original de fábrica. Lars entregou os documentos, chaves, seguro, declaração de autorização de uso e apresentou a contabilidade. Ofereceu vários acessórios, e aceitamos o saco estanque, protetores de botas e um segundo kit de ferramentas. Enquanto isso, Gilson se embrenhou na garagem e só voltou quando já tínhamos terminado o breefing sobre regras de condução.



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Conversamos um pouco enquanto tomamos café. Mas era dia de semana e Lars precisava trabalhar. Então ele nos acompanhou de moto até um cruzamento de onde poderíamos seguir sozinhos sem dificuldade. Senti Gilson travado na condução da moto refletindo o comportamento dela. Andando a menos de 50 km/h parecia uma tobata, e ao acelerar, a velocidade era entregue de forma abrupta, o que indicava um problema de regulagem ou defeito. Dava pra sentir o Gilson testando várias combinações de comandos para tentar entender o que estava errado. E assim seguimos Lars até o cruzamento onde ele nos deixou e continuaria sozinho. Não nos veríamos mais, pois quando voltássemos de nossa viagem ele mesmo estaria em outra, e nos despedimos afetuosamente ali mesmo.


Observamos Lars se afastar com sua moto no sentido oposto ao nosso, ele se virou e olhou para nós uma última vez e, num movimento sutil e cheio de ginga, inclinou lateralmente tronco na nossa direção, esticou o braço apontando o indicador e dedo médio para o solo, enquanto mantinha os outros dedos unidos sobre a palma da mão. Foi a primeira vez que vimos aquele gesto, que dali em diante veríamos diariamente, o cumprimento dos motociclistas alemães.


-Tschüß, Lars! Bis Bald!-





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Estávamos em Altes Land, a região que vimos de cima durante os procedimentos de pouso do avião no dia em que chegamos, uma área pantanosa que abrange da Baixa Saxônia e Hamburg, a sul do rio Elbe. O que nós víamos ali era uma grande planície cortada por canais drenantes com quilômetros de pomares de cerejeiras carregadinhas de frutas vermelhas, e de maçãs e peras que começavam ganhar cor, assim como grandes fazendas de morangos, que impregnavam o ar com seu perfume adocicado.


Mais tarde fiquei sabendo que a região foi candidata a entrar na lista da UNESCO de Patrimônio Cultural da Humanidade, na categoria de Paisagem Cultural (que designa a interação entre a paisagem propriamente dita e a ação do homem) como representante excepcional de colonização holandesa na alta idade média através da drenagem do terreno pantanoso. Os canais lineares de então ainda são visíveis e conservados e os elementos estruturantes das povoações estão complementados pelos atuais edifícios rurais que formam malhas ricas e densas. A elevada fertilidade do solo transformou esta na maior região produtora de frutas no norte da Europa com origem também na idade média.


O dia passou mais rápido que gostaríamos e já eram quase cinco da tarde quando decidimos voltar a Harburg pelo trajeto mais curto sugerido por Gerhard, passando por Jork (pronuncia-se Iórc). Não sabíamos o que havia aí de especial, por isso o impacto foi forte ao ver uma aldeia quase toda formada por casas e galpões de dois a três pavimentos construídos em Enxaimel pintado de branco com os vãos preenchidos com tijolos vermelhos formando desenhos geométricos. As estruturas do Enxaimel tinham decorações em baixo relevo pintadas com cores alegres e muitos dos telhados tinham cobertura vegetal. Havia muitas casas com obras de manutenção, principalmente nos telhados, suponho que aproveitavam o período de estiagem que a região estava atravessando. Era uma Marschhufendorf, aldeia linear característica das terras baixas do norte da Europa alinhadas à uma estrada ou canal. Esta, alinhada à estrada, tinha um centrinho urbano formado num entroncamento viário que era de uma beleza singela única.

Paramos no posto para abastecer o tanque da moto e nossos estômagos vazios. Seria a primeira vez que abasteceríamos em sistema de self-service. Depois de ajudar a decifrar as instruções em alemão, deixei o Gilson nas bombas e fui procurar um banheiro e alguma coisa para comer. Enquanto fazia o pedido do lanche no caixa, Gilson entrou para pagar o abastecimento e contou com uma expressão pensativa a bronca que tinha acabado de levar de outro cliente, que percebeu o transbordamento de combustível no tanque da moto, e chegou a passar o dedo na poça do chão para confirmar pelo olfato a sua suspeita. Rá! A primeira vez a gente não esquece! Tá certo o alemão, eles são foda!


Do entroncamento no centro de Jork seguimos paralelamente ao canal no sentido norte até chegarmos ao dique de contenção de cheias. Cruzamos com vários motociclistas que nos cumprimentaram da mesma forma que Lars fez ao se despedir. No norte da Alemanha as marés avançam e recuam quilômetros e quando a maré alta coincide com ventos ciclônicos elas invadem essas terras baixas, assim como Hamburg, um fenômeno temido e conhecido por Sturmflut (maré ciclônica), daí a importância dos diques. Caminhar sobre o dique é uma experiência única, a vista alcança quilômetros sobre a planície e o vento constante e forte ondula as espigas do capim brilhoso que cobre a elevação e excita a sensação de formigamento nas narinas. Os bancos convidam a sentar e contemplar, mas o vento frio impele a caminhar primeiro contra o vento, depois a favor. Lá embaixo vários ciclistas percorriam as ciclovias protegidos do vento e favorecidos pela topografia.


O sol já estava na altura dos olhos, eram 19 horas quando Gilson sugeriu que deveríamos prosseguir para não pegarmos a estrada no escuro: -Só faltam 5 cm de sol- Referindo-se a distância do sol ao horizonte. Tomamos então a estrada paralela ao Rio Elbe seguindo na direção de Hamburg, já bem próxima. Chegamos em casa 20 minutos depois, mas só foi anoitecer depois das 21h30min, foi quando entendemos que ali o anoitecer é looooooongo, dura hooooooras e não requer pressa nenhuuuuuuuma.

 

O dia em números:

Deslocamento:

  • De Stade a Harburg (via Jork e Hamburg)

  • Distância percorrida = 70 km ≈ Duração = 1h30m

  • início: 14h30min - Fim: 19h

Despesas:

  • Combustível € 10,75

  • Estacionamento € 0,00

  • Transporte público € 10,60

  • Hospedagem € 0,00

  • Alimentação € 23,89

  • Ingressos € 0,00

  • Moto (peças e serviço) € 0,00

  • Presentes € 19,99

  • Outros € 9,99

  • TOTAL € 75,22

Serviço:

 

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