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  • Foto do escritorBárbara

4° Dia: Lüneburger Heide, Hundertwasser, Produção Rural e Sustentabilidade Aplicada

Atualizado: 24 de ago. de 2021


Hamburg, 10/06/2018 - Domingo


Fomos dormir tarde depois do grill no Jardim de ontem a noite, então foi o primeiro dia em que acordamos mais tarde desde que chegamos.


O plano do dia era conhecer a região a sudeste de Hamburg, próxima à fronteira com a antiga Alemanha Oriental, antes da unificação dos dois países, onde fica a casa de Annika.


A aldeia em que ela mora é situada na Charneca de Lüneburg (Lüneburger Heide). Uma região que lembra muito a caatinga e as veredas brasileiras, com pequenas áreas de floresta mista e grandes áreas de vegetação de urze que no final do verão floresce e cobre a paisagem com suas pequenas flores roxas. Essas urzes dominam a paisagem por conta da criação de ovelhas que não deixa com que outras espécies se desenvolvam. A Alemanha há muito tempo não tem mais florestas primárias e aquelas que estávamos vendo na paisagem eram de recuperação, induzida pela mão do homem. A maior parte da região é uma área de proteção natural e cultural onde se abriga o enorme aquífero que abastece a região metropolitana de Hamburg com água potável e é um destino turístico muito popular da região.


A autoestrada que nos levou até lá atravessava uma planície coberta de campos com vários tipos de cultivos e povoada por inúmeros geradores eólicos. Não se tratavam campos de usinas como são no Brasil, administrados por empresas, mas pequenas plantas particulares, implantadas para geração de energia para uso próprio, e seu excedente vendido à concessionária, um sistema parecido no Brasil ao da geração de energia elétrica a partir de painéis solares particulares. A quantidade de geradores é enorme e sua distribuição pelo espaço parecia aleatória e daria o que pensar a Dom Quixote.



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Quando nos visitou no Brasil, Annika me presenteou com a reprodução de um quadro de Hundertwasser, sem saber que amo o trabalho desse artista plástico, arquiteto e ecologista. A inspiração daquele presente veio da estação projetada por ele onde Annika toma o trem para trabalhar em Hamburg três vezes por semana. Ela tinha muito orgulho dessa estação e estava ansiosa para mostrá-la.


O caminho da estrada estadual até a estação através da pequena e charmosa Uelzen se dá através de ruas limpas e estreitas com excelente pavimento, passeio público conservado, muros baixos que permitem ver os pequenos jardins frontais muito bem cuidados e que enfeitam as frentes das casas de alvenaria de tijolos vermelhos e janelas brancas com telhados bem inclinados de duas águas. Tudo remete a zelo e capricho não só estético, mas também funcional. Hundertwasser é um arquiteto-ecologista austríaco, conhecido por seus projetos de linhas orgânicas. Esta estação foi planejada para ser autossuficiente na geração e consumo de energia, tratamento de efluentes, reuso de águas servidas, reciclagem de resíduos. Além de permitir a integração com outros modais, com a oferta do espaço de bicicletário e estacionamento, podendo-se, como Annika, levar a bicicleta no trem pagando um acréscimo ao ticket normal ou usar uma bicicleta dobrável que conta como item de bagagem e é gratuito. Annika percorre os 10 km, que separam sua casa da estação com sua bicicleta dobrável, continua de trem até Hamburg, onde desembarca, e continua pedalando até a clínica onde trabalha. Além das soluções exemplares em sustentabilidade há aquela linda construção onde as curvas e as cores predominam e a linha reta não tem vez. Possivelmente a única crítica que se pode fazer é que a estação ficou subdimensionada para atender a atual demanda nessa estação regional.


Indicadores de sustentabilidade na estação Hundertwasser, Uelsen, Alemanha. Como era de se esperar para o tratamento que Gilson seguia, ele precisava esvaziar a bexiga com frequência. Quando voltou do banheiro da estação de Hundertwasser veio me contar entusiasmado o que tinha acabado de ver, enquanto eu mesma lavava as mãos no banheiro feminino que estava com a porta aberta. A funcionária, vendo minha desatenção ao fechar o registro de alavanca do lavatório, interrompeu exaltada nossa conversa -"Wasser! Wasser! Wasser!" alertando para água que continuava a correr. - Justo eu que sempre instigo os outros ao uso racional da água... Mas a bronca foi simpática e a funcionária falava um pouco de espanhol. Ela me convidou a entrar no banheiro masculino que era famoso e bem mais bonito que o feminino, e onde tive uma suave vertigem que costumo sentir em espaços curvos, uma sensação de flutuação que deve ter sido induzida pela vibração nos trilhos do trem que acabara de passar.




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Mas a aldeia de Annika, Holxen, é mais afastada, na área rural. Sua casa fica em frente à uma enorme plantação e está inserida num pequeno aglomerado de casas que formam uma aldeia de pouco mais de 200 habitantes em que a arquitetura predominantemente é Enxaimel preenchido com tijolos vermelhos e telhados bem inclinados cobertos de coletores solares.


Enquanto Annika preparava o almoço fomos conhecer o entorno e nos surpreendemos com um pequeno abrigo em forma de vitrine, em frente à casa do vizinho que continha parte da produção de mel e ovos. Havia uma tabela afixada no interior informando o preço de cada produto e um cofre onde o dinheiro deveria ser depositado. Achamos fantástica a materialização da relação de confiança, que parece resistir apenas em pequenas aldeias, e Gilson escolheu um pote do mel premiado, colocou o pagamento no cofre e fechou a vitrine. Depois do delicioso almoço vegano, um prato que nunca tinha experimentado antes, fomos caminhar pela aldeia e seguimos na direção do bosque. Desta vez o Gilson não teve como se opor e foi conosco. Foi uma caminhada tranquila, o bosque não era denso e o trajeto no meio dele, curto. Ficamos impressionados com a consciência ambiental dos alemães e suas iniciativas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, mas também vimos um grupo de pequenos carvalhos que tiveram as cascas sabotadas para matá-los sem chamar a atenção. É interessante confrontar essa atitude com o fato de que todas aquelas casas em Enxaimel tiveram suas estruturas feitas a partir das árvores retiradas das florestas, raras nos dias de hoje nessa região. Annika comprou aquela casa antiga que tem até um anexo para porcos construído em alvenaria, mas este está vazio. A casa principal foi reformada e ficou muito bonita. Aqui, na ampla e clara sala da frente, ela recebe os clientes para terapia de osteopatias, enquanto a pequena sala ao lado da cozinha abriga sua coleção de tambores africanos e é o coração da construção. Antes de voltarmos a Hamburg ela colheu alguns ramos de plantas medicinais da sua horta orgânica e aromática. A horta é um projeto em andamento e promete ser uma importante fonte de remédios para terapia complementar. Ali mesmo ela colheu as ervas com as quais fez o composto para as compressas para o pé de minha mãe, que levamos conosco para entregá-lo à Hilla quando devolvemos o carro em Hamburg.




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De volta a Hamburg, encontramos Hilla satisfeita, a estranha terapia de ontem aplicada por Annika no pé da minha mãe tinha induzido uma significativa redução do edema, e ela esperava que as compressas com aquela tintura que trouxemos ajudassem ainda mais. Voltamos para a casa de Gerhard como nos outros dias mas, desta vez, Annika mostrou como percorrer de ônibus, integrando com o bilhete da S-bahn, o trecho que estávamos fazendo a pé. Gilson ficou aliviado e agradecido pela chance de relaxar e chegar no nosso anexo poupando os pés e o ânimo e sem enfrentar a subida que apenas Gerhard domina como ninguém. Gilson definitivamente não é um pedestre, ele anda, mas de moto.


Fomos dormir animados. Amanhã Lars estará de volta, é o tão esperado dia de buscar nossa moto!


 

O dia em números:

Deslocamento:

De Harburg/Hamburg a Holxen e volta a Harburg

  • Distância percorrida = 252 km ≈ Duração = 3h

  • início: 09h30min - Fim: 21h30m

Despesas:

  • Combustível € 0,00

  • Estacionamento € 0,00

  • Transporte público € 3,30

  • Hospedagem € 0,00

  • Alimentação € 6,00

  • Ingressos € 0,00

  • Moto (peças e serviço) € 0,00

  • Presentes € 0,00

  • Outros € 0,00

  • TOTAL € 9,30

Serviço:

 

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