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18° Dia: O INCRÍVEL PASSO DEL ROMBO (TIMMELSJOCH) – de Valtina a Krün

Atualizado: 4 de fev. de 2023



Krun (Alemanha), 11 de agosto de 2019 - Domingo

Acordei com o sino da igrejinha chamando para a missa. A vista do nosso terraço sobre o vale é inspiradora. A pequena vila de Valtina, localizada no final das curvas do Passo di Monte Giovo (Jaufenpass), tem apenas uma rua que desce o vale acompanhando as curvas de nível. É uma base excelente para passar alguns dias e explorar os atrativos da região.


No refeitório encontramos uma mesa farta e conversamos com um casal sobre todos os lugares que haviam visitado durante sua estada. Alguns fiéis vieram depois da missa confraternizar no pub e, lá fora ao lado de nossa moto, quatro motociclistas conversavam e bebiam café numa pausa estratégica entre o Passo Giovo e o Passo Rombo.​ Este clima genuinamente acolhedor fez desta pousada um ponto de encontro para todo tipo de público e acabou por nos proporcionar a melhor hospedagem da viagem.


O trajeto do dia não poderia ser melhor. Planejamos retornar a Alemanha pelo Passo del Rombo (Timmelsjoch), uma passagem de montanha que conecta San Leonard in Passíria, na Itália, a Sölden, na Áustria. Um passeio emocionante por uma estrada desafiadora que combina ecologia, arte, história, tecnologia da construção e turismo rodoviário. Não foi nossa primeira vez nesta estrada. No ano anterior apenas usamos seu traçado para um deslocamento, sem reservar tempo para desfrutar o que ela oferece, e nos arrependemos disso. Desta vez foi diferente, mas se manteve a certeza de que é fantástica e impossível não se apaixonar por ela.



PERDENDO O RUMO

Estávamos no ponto de virada do nosso roteiro. O plano do dia era percorrer o lindo Passo del Rombo, cruzar a Áustria, retornar a Alemanha, rodar até as 17 horas e então procurar um local para pernoitar. Saímos sem pressa, pois o trajeto seria relativamente curto. Em San Leonardo in Passíria aconteceu o primeiro imprevisto quando Gilson não seguiu as placas indicativas da estrada. Ao invés disso atravessou a ponte. O que deu uma sacudida emocionante na nossa jornada.


O Maps corrigiu a rota e, depois de uma rápida conferência, mandei seguir em frente. A nova rota nos levou pelo outro lado do rio Passer, que nasce aqui nestas montanhas. A subida íngreme e tortuosa não passava de uma picada asfaltada. Sem chance para dois carros se cruzarem. Casas e pastos desaparecem cedendo a vez a pinheiros com copas tão altas que os troncos pareciam uma cortina de palitos gigantes que deixavam entrever os estágios mais baixos do caminho. Sem saber no que ia dar, Gilson ia reclamando, desconfiado de que aquela rota nos levaria a alguma situação sem saída, perguntando repetidamente se eu tinha certeza de que o caminho estava correto.


Brigite, nossa BMW F650ST, é um tratorzinho e encara a subida com velocidade e tranquilidade próprias. Este é seu reino. Gilson desacelerou quando alcançamos uma coluna de quadriciclos e os deixou irem na frente, nos resguardando de qualquer surpresa que pudesse surgir da incógnita lá na frente.


Da vila no alto da montanha é possível ver a extensão do rio Passer e a pequena e bucólica Moso in Passíria no fundo do vale, onde programamos fazer a primeira parada. Os quadriciclos seguiram por outro caminho e nossa descida com o motor desligado e na banguela culmina com a travessia da volumosa cachoeira do Passer, junto à entrada da vila que se espreme entre a encosta e o rio. Sem dúvida o erro de percurso foi um acerto memorável.




PARADA I : IBEX E BUNKER MUSEUM

Nossa primeira parada foi em Moso in Passíria que tangencia o traçado da estrado do Passo del Rombo e onde existe um Bunker da segunda guerra mundial. Ele fazia parte de um sistema defensivo do Alto Ágide, a fronteira norte da Itália fascista com sua aliada de desconfiança mútua, a Alemanha nazista. Este é um território culturalmente misto e mais parecido com a Áustria que com a Itália, e atualmente com um forte movimento separatista.


Escavado na rocha para servir de arsenal na segunda Guerra mundial, o Bunker nunca foi utilizado com essa finalidade. Convertido em museu dedicado à natureza e história do Vale do Passer, é um importante centro de informações sobre o Parque Natural do Grupo Texel, a massiva cordilheira alpina na fronteira entre Itália e Áustria. Não fosse a torre de vidro e aço de três andares, o Bunker estaria imperceptível. No hall de entrada você pode comparar as maquetes e fotos do parque com a imagem real lá fora através dos painéis de vidro. Na bilheteria são oferecidos casacos, muito úteis no interior escuro e gelado ao som de goteiras. A luz existente é cirurgicamente direcionada para coleção que contempla temas relacionados à geografia, geologia, biologia, cultura, arqueologia e história local.


Uma claustrofóbica e escura escada em caracol com 177 degraus leva a um platô da montanha. Levou alguns minutos para acalmar a frequência cardíaca, a respiração e os olhos, pois a luz natural se esparrama por todas as reentrâncias e saliências. A paisagem é linda! Daqui longas escadas metálicas externas levam através da uma floresta de pinheiros tão alta e densa que não se vê o chão lá em baixo.


E, de repente, lá estão eles, uma família de Ibex. Com enormes chifres curvados, esta cabra montanhesa selvagem é adaptada à vida nas encostas íngremes dos Alpes. É uma espécie protegida, quase extinta pela caça, e apenas duas famílias vivem neste recinto. Trata-se de um projeto de reprodução e reinserção em seu habitat natural. A taxa de reprodução é de apenas um filhote ao ano e quando os filhotes atingem a puberdade, por volta dos três anos, é feita a tentativa de inserção do jovem num grupo selvagem.


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PARADA 2: GRANADA

Enquanto uma banda a caráter tocava músicas regionais típicas numa praça onde havia uma quermesse, voltamos ao traçado oficial da Estrada do Passo del Rombo. O cenário do vale é espetacular e pode ser desfrutado na Experiência Timmelsjoch, um projeto premiado do arquiteto Werner Tscholl, composto de seis construções minimalistas e escultóricas que criam mirantes perfeitos nesta paisagem cheia de precipícios. Os locais de parada são importantes porque a estrada não tem acostamento. É uma estrada estreita (4 a 6 metros) de pista simples e cheia de restrições, que só fica aberta entre meados de maio a final de outubro por causa da neve, e apenas durante o dia, por ser perigosa.


GRANAT (Granada) é a primeira estação moldada à semelhança da geometria desta formação geológica presente no Vale do Passer. O interior conta com uma exposição sobre o sistema defensivo de seis bunkers, sobre as mais altas cachoeiras e a vila com o maior número de crianças no Alto Ágide. A única abertura é o vão de entrada e a gruta tem uma ótima acústica que inspirou Gilson a improvisar uma chula gaúcha. Uma plataforma metálica vazada leva à segunda construção igualmente escultural, mas transparente, colada perigosamente à encosta cercada de vento com a fantástica paisagem de Moso in Passiria a seus pés.


Na saída, um casal de motociclistas que fumava ao lado de sua moto, no abordou. Eles faziam um trajeto parecido com o nosso, mas no sentido inverso e queriam saber se o pavimento do Passo Giovo estava seco quando passamos no final da tarde anterior. Estava. Disseram que tinham muita vontade de ir ao Brasil conhecer tribos indígenas que vivem na floresta Amazônica e mostraram preocupação crítica com a politica ambiental que o Brasil adotou depois de nossa última eleição majoritária.


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PARADA 3: TELESCÓPIO

A medida que se sobe entre curvas, túneis, paredões e florestas, chega-se à altura onde as árvores cedem paisagem aos campos que capotam sobre suas beiradas e se alastram por toda superfície em qualquer inclinação de onde emergem massas rochosas.


Nesta paisagem verde e suculenta surge a segunda estação da Experiência Timmelsjoch: O Telescópio. Moldado na mesma linguagem arquitetônica que o anterior, a forma imita um telescópio desconstruído e convida a entrar em seus tubos. Eles emolduram a paisagem do Parque Natural Grupo Texel direcionando a vista para o Granatkogel, com seus 3.304 m, e o Hoher Firts, com 3.403m, os picos mais altos da cordilheira.


O contraste de luz e sombra dá margem para uma divertida brincadeira com as silhuetas dos picos acompanhadas das dos visitantes e das cabras montanhesas recortadas em metal. A sucinta exposição em seu interior aborda informações sobre a geologia da parte alta no vale do Passer, sobre suas formações rochosas e a cabra montanhesa (Ibex).


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PARADA 4: O MUSEU DO PASSO

As rampas ficam cada vez mais inclinadas, e as curvas apertadas, até chegarmos à linha do gelo, onde reinam a rocha, a vista e o vento. A subida de 33 km de Moso in Passiria até o Passo conta com alguns túneis e uma média estimada de 1 curva a cada 20 metros! Nossa moto está em casa aqui.


Não temos pressa nenhuma em absorver a paisagem com todos os nossos sentidos, e deixamos os apressadinhos nos ultrapassarem. Se a subida é beleza seguida de outra, o topo é de um deslumbramento total. Nossa primeira passagem foi num dia de céu claro com um paredão de 2 metros de neve na beira da estrada. Desta vez não havia neve nenhuma e nuvens densas e baixas reduziam a visibilidade dando um tom de suspense ao topo. Esta é a passagem de montanha mais alta da Áustria (2.509 m) e no ranking das estradas de altitude asfaltadas, a terceira mais elevada do país. Foi absolutamente lindo, emocionante e as vezes assustador. Uma experiência inesquecível!


Aqui chegamos a mais uma estação da Experiência Timmelsjoch, o MUSEU DO PASSO, ancorado num balaço desafiador na direção da fronteira com a Itália. No interior, uma homenagem aos esforços dos pioneiros em construir a estrada, numa época de transição do trabalho braçal para uso de tratores e caminhões. Fotos em tamanho maxi retratam a dificuldade da empreitada, e a determinação pioneira beirando a insanidade que transformou uma simples trilha de contrabandistas numa das mais belas estradas turísticas de alta montanha da Europa...


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PARADA 5 – CONTRABANDISTAS

Daqui pra frente é só descida, que inicia com uma sequência de curvas curtas e fechadas até chegar a uma longa reta que permite absorver a grandiosidade da vista com calma. Ali, ao lado de um córrego, protegida pelas encostas e parecendo um pacote abandonado, fica outra estação da Experiência Timmelsjoch: CONTRABANDISTAS.


O cubo em concreto colorido com acesso ao interior pela forma da silhueta humana, uma interessante brincadeira que desperta a curiosidade pelo conteúdo secreto em seu interior. Trata-se de uma pequena exposição dedicada à história dos contrabandistas que utilizavam uma antiga trilha com traçado parecido ao da atual estrada para transportar artigos escassos durante as duas guerras mundiais. Se naqueles tempos esta era uma rota remota e secreta utilizada para evitar o pagamento de impostos, hoje é preciso pagar alto valor de pedágio para usufruir da estrada e seus cenários usando seu próprio veículo. A pé, de bicicleta ou com o transporte público você ficará isento deste valor, uma recompensa àqueles que se esforçam. A natureza agradece.


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PARADA 6: O TOP MOUNTAIN CROSSPOINT , O MUSEU DA MOTOCICLETA E A PRANCHA

O posto de pedágio está localizado junto ao Top Mountain Crosspoint , uma belíssima obra arquitetônica em madeira projetada pelo arquiteto austríaco Michael Brötz e administrada pelos irmãos Attila e Alban Scheiber, que inclui o museu de motocicletas, terraços, restaurante e a estação de teleférico. O terraço amplo e ensolarado convida a uma parada para um delicioso sorvete e cerveja sem álcool em companhia de todo o estilo de motociclista, de todas as idades e gêneros. Despreocupados e com expressões satisfeitas, ninguém ligou para braguilha da calça de cordura aberta de um dos colegas que circulava entre as mesas. Rá!


O Museu da Motocicleta é o museu de maior altitude do gênero na Europa, com 320 exemplares de 120 fabricantes expostos num amplo e belo salão localizado no segundo piso. Alguns exemplares são bem raros e a coleção é muito interessante.


Do outro lado da estrada fica a última das estações de Experiência Timmelsjoch, com sua forma escultórica que abriga uma exposição sobre os assentamentos humanos, formação das geleiras e florestas de pinheiros no Vale de Ötz. Da PRANCHA tem-se uma vista incrível sobre a beleza do vale onde foi encontrado Ötzi, a Múmia da geleira de 5.300 anos.

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O VALE DE ÖTZ

A descida pelo vale de Ötz é cênica e repleta de curvas e surpresas, acompanhando o traçado do rio Ötztaler Ache que nasce como um fio de degelo e termina num caudaloso rio de águas turquesas adensadas por partículas acinzentadas levadas pela erosão. A descida é repentina, seguida de um longo percurso descendo pelo vale com muitas pequenas vilas alpinas turísticas. Sölden marca o fim do trajeto oficial da estrada e estava cheia de turistas de todas as nacionalidades sentados nos terraços dos restaurantes às margens do rio turbulento. Já era meio da tarde quando paramos para um lanche ainda no vale de Ötz.


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RETORNANDO À ALEMANHA

Minha recomendação é pernoitar na região. Não foi o que fizemos, pois queríamos avançar mais. Completamos o tanque e compramos a vinheta da autoestrada para o curto trajeto até a fronteira da Áustria com a Alemanha. O belo trajeto pelo vale do Rio Inn, margeando colossos rochosos, foram vencidos com um certo cansaço. Por isso deixamos de lado a travessia da fronteira pela rota mais cênica, por Reute, Plansee e Parque Natural dos Alpes de Ammergau, e optamos pelo trecho mais curto, via Scharnitz e Mittenwald, que também tem sua beleza.


Paramos para descansar e procurar uma pousada em Seefeld in Tirol . Todas as opções de hospedagem estavam ocupadas. Encontramos uma alternativa a 25 km de distância, numa pequena vila agrícola já na Alemanha. A pousada familiar era linda, mas o staf tinha a costumeira eficiência fria. Ficamos felizes em termos um lugar tão confortável para pernoitar. Tomamos banho, lavamos roupas, jantamos nossas sobras de piquenique e nos recolhemos cedo, afinal, o dia foi bem exaustivo, mas fantástico!



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O Dia em Números:

Deslocamento:

  • Trajeto de Valtina (IT) a Krün (DE)

  • Distância percorrida = 161 km ≈ Duração = 4h20min.

  • Início 09h55min - Fim 19h45min. 

  • Paradas = 5h30min (Bunker Museum, Granat, Telescópio, Museu do Passo, Top Mountain Crosspoint (museu da motocicleta e almoço), caminhada em Sölden, lanche e abastecimento em Langenfeld, descanso em Seefeld in Tirol)

Despesas Essenciais:

  • Combustível: € 16,47

  • Vinheta Autoestrada austríaca (validade 10 dias): € 9,20

  • Hospedagem em Krün: € 101,30

  • Alimentação: € 32,07

  • ingressos Bunker Museum (2 x € 6,00): € 12,00

  • Ingressos Museu da Motocicleta (2 x € 10,00): € 20,00

  • Pedágio Estrada Passo del Rombo (motocicleta - one way) € 14,00

  • TOTAL: € 205,04

Custos de manutenção:

  • Serviços: € 0,00

  • Peças: € 0,00

  • Ferramentas: € 0,00

  • Material de consumo: € 0,00

  • SUBTOTAL B - € 0,00

 
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INFORMAÇÕES SOBRE A ESTRADA:

 

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