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23° Dia: Companheirismo no Walchensee - Manutenção do Carburador

Atualizado: 24 de ago. de 2021


Walchensee, Alemanha (foto: Bárbara Schiemann)

Walchensee, 29/06/2018 - Sexta-feira


Nosso quarto é enorme, tem antessala, banheira no banheiro, sacada grande com mesa e cadeiras e uma cama gigantesca, tudo funcionando embora um pouco outdated. No geral, o Hotel onde estamos hospedados é antigo e precisa de vários reparos e reforma. Deve ter a idade dos proprietários que aparentam serem bem idosos por conta da postura encurvada e cabelos brancos, mas eles são profissionais e cordiais, nos ajudaram muito quando precisamos, colocando seus funcionários à nossa disposição.


O encanto deste lugar está lá fora, estamos nos pré-Alpes Bávaros, a sul de Munique, uma região de muitos lagos que se formam nos vales. O lago em frente ao nosso hotel é lindo e enorme, as bordas de suas águas tem uma praia estreita que acompanha o traçado sinuoso das encostas, dando a impressão de ser um imenso recipiente, o que de fato é, pois há uma usina hidroelétrica em operação que se aproveita do desnível de pouco mais de 400 metros entre este e um segundo lago do outro lado do passo de montanha Kesselberg. Disseram que nos finais de semana as pessoas vêm de longe para se divertir e descansar aqui.


Chegamos ontem debaixo de uma chuva forte e hoje amanheceu chovendo levemente. Após o café da manhã a chuva foi diminuindo até se transformar numa névoa e finalmente parar. Nesse dia estava tudo muito quieto. Saímos para caminhar na beira do lago, e lá não havia vento, ninguém na rua, tudo era silêncio, luz difusa, serenidade. As pessoas estavam todas no interior das poucas casas. Alguns motociclistas, encapsulados em suas capas de chuva e montados em suas motos com malas laterais, passaram por nós lentamente aproveitando a paisagem e o ar limpo.


Entramos numa loja de artigos de pesca procurando uma calça impermeável para substituir aquela do Gilson que no dia anterior não cumpriu sua função, mas não havia nenhuma à venda, então compramos picolés porque pareciam ótimos e, apesar do friozinho, deu vontade. Continuamos nosso passeio matinal preguiçosamente até às 11 horas quando retornamos ao hotel com intenção de continuar viagem para Munique percorrendo um trecho da primeira estrada de férias da Alemanha, a Deutsche Alpenstraße (Estrada Alpina Alemã), seguindo pelo Kesselberg até Kochel am See e Benedictenbeuren, e depois tomando a autoestrada até Munique.



Clique sobre a imagem para abrir ou sobre a seta para avançar.



Hotel pago, carregamos nossa bagagem cigana até a moto e a encontramos onde a deixamos, mas com um forte cheiro de gasolina em torno dela e uma poça no local onde estava estacionada... E agora? O Gilson logo entendeu que o vazamento de combustível só podia ser pelo extravasador dos carburadores causado pela deficiência de vedação nas válvulas da cuba. Nessa situação o combustível pode se acumular na câmara de combustão, passando pelo coletor de admissão, ou na caixa do filtro de ar, dependendo da inclinação da moto. O extravasamento continuava em menor volume com a moto numa posição menos inclinada, que indicava que a caixa do filtro de ar também tinha acumulada parte do combustível extravasado. Com a torneira do tanque fechada tentamos dar a partida, primeiro sem acelerar e depois com o acelerador todo aberto, mas sem sucesso. O motor estava afogado!


Um vizinho do hotel foi muito prestativo e forneceu cabos e bateria para não ficarmos sem carga durante as tentativas, a moto pegou mas, não foi animador. Seria necessário verificar os carburadores... Gilson sabia ser capaz de corrigir o problema, mas naquele lugar isolado teríamos problemas se houvesse necessidade de comprar peças. Poderíamos acionar o seguro ADAC, que levaria a moto até uma oficina onde o reparo pudesse ser feito, mas decidimos fazê-lo nós mesmos, pois amanhã é sábado e não haverá oficinas operando.


Então, devolvemos a bagagem ao quarto, e fomos procurar um lugar para almoçar, pois o restaurante do hotel já tinha fechado a cozinha. Só havia um lugar com cozinha aberta e estava próximo, em frente ao lago.


Todas as mesas ao ar livre estavam ocupadas, então entramos e aguardamos o garçom no balcão. Quando ele chegou ordenou grosseiramente que sentássemos e trouxe o cardápio, pedi uma cerveja enquanto decidíamos o que comer. Era um restaurante especializado em peixes, e para mim, que sou vegetariana, sobrou apenas a pizza de muzzarela para comer, que o Gilson acompanhou porque estava sem fome. O garçom trouxe nosso pedido acompanhado de apenas um copo e um par de talheres. Agradeci e pedi que trouxesse mais um copo e mais um jogo de talheres, ao que ele respondeu grosseiramente que o pedido tinha sido UMA pizza e UMA cerveja. Foi ridículo! E me senti mais ridícula ainda por ter que dizer que éramos dois clientes e portanto seria óbvio que cada um quisesse usar seus próprios talheres e copos. Ele grunhiu algo pelas costas e trouxe o que pedi, mal humorado. Pensei que talvez fosse um desses sulistas de extrema direita que detesta estrangeiros, porém mais tarde, na hora de avaliar o estabelecimento pelo Google, constatei que o mal humor do garçom era recorrente em outras avaliações. Deve ser uma dessas figuras folclóricas turronas que fazem parte do estabelecimento por parentesco ou por sociedade. Foi uma decepção que num ambiente tão bonito, num restaurante tão bem decorado tivéssemos um atendimento tão ruim.


Depois de comer, voltamos ao hotel, trocamos de roupa e retornamos à moto. Gilson sabe o que faz, jamais começa um trabalho sem ter certeza de que poderá concluí-lo, então arregacei as mangas e deixei que ele conduzisse os trabalhos.

Foi difícil tirar o carburador, as partes flexíveis não o eram o suficiente para movimentar as peças num o espaço tão apertado, então, para não danificar nenhuma peça, desmontamos a moto quase toda: retiramos carenagens, bateria, tanque, caixa do filtro de ar (confirmando aí o acúmulo de combustível), escapamento e, finalmente, o carburador! Gilson analisou os carburadores, a BMW F650 tem um cilindro e dois carburadores idênticos, e constatou que o vazamento era de fato pelas sedes das válvulas das cubas, ocasionado pelo ressecamento dos anéis de borracha (O-ring original de fábrica com 19 anos), eles não cumpriam mais sua função o que explicava o mau funcionamento do motor em baixas velocidades. Mais tarde, Gilson explicou que há 19 anos quando a moto foi fabricada, ela atendia aos parâmetros de uso da época, incluindo o combustível que não levava etanol. Mas, num passado recente, o combustível mais barato passou a ter 10% de adição de álcool, e este álcool adicionado ao combustível acelerou o processo de degradação da borracha do O-ring que foi concebido para uso com combustível puro. "Semelhante dissolve semelhante". Então, o correto seria o uso de O-ring com composição específica para os combustíveis atuais.



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Trabalhamos a tarde toda no chão do estacionamento, praticamente sem recursos além das nossas próprias ferramentas, uma chave de boca e um baldinho plástico que o garçom do restaurante nos emprestou. Quando o dia começou a escurecer decidimos parar o trabalho e deixar o reparo para dia seguinte. Guardamos tudo num canto pouco usado do estacionamento, mas não sem antes passar meia hora procurando na penumbra um dos conjuntos de válvula e sede que o Gilson tinha certeza de ter deixado cair no chão.


Fizemos uma varredura minuciosa em toda área em que trabalhamos e não encontramos as peças! Repetimos a varredura e nada. Foram minutos de apreensão e algumas preces foram lançadas ao céu em silêncio! Quando entendi que estávamos deixando o medo nos dominar, procurei recuperar o pensamento lógico, foi então que percebi que seria perfeitamente possível enxergar as peças, que não eram tão pequenas assim, se tivessem realmente caído no chão. Como não havia nada no chão para ser encontrado, insisti para Gilson procurar novamente nos bolsos. Gilson, não aceitou a ideia, tinha certeza que era no chão que estavam e fez resistência, mas enfiou a mão no bolso superior do casaco e sua expressão repentinamente se iluminou, abriu a mão e lá estavam as peças!!! Foi um grande susto seguido de um enorme alívio! O medo é uma força traiçoeira que nos prega peças e nos imobiliza. Melhor é manter a calma, se afastar do problema e olhá-lo de longe, assim é mais fácil ver uma solução. Gilson prefere acreditar que suas preces foram atendidas... Rá!


Fomos dormir exaustos, mas aliviados, depois de jantar o piquenique que compramos na Itália no dia anterior.


O relato de como fizemos o reparo e continuamos a viagem você pode ler clicando aqui.


Viaje na leitura e boas curvas!


Carburadores da BMW F650



 

O dia em números:


Deslocamento:

  • Dia de trabalho - sem deslocamento

  • Deslocamento = 0 km ≈ Duração = 0 h


Despesas:

  • Combustível € 0,00

  • Estacionamento € 0,00

  • Hospedagem € 70,00

  • Alimentação € 15,00

  • Ingressos € 0,00

  • Moto (peças e serviços) € 0,00

  • Presentes € 5,00

  • Outros € 0,00

  • TOTAL € 90,00

 

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