Bárbara
- 19 de jan. de 2020

6° Dia - FINALIZANDO A MANUTENÇÃO, SEGUINDO VIAGEM E NOTÍCIAS DE CÉSAR - de Epscheid a Coblença

Atualizado: 24 de ago. de 2021

Coblença, 30/07/2019 - Terça-feira.

O atraso no roteiro me deixava apreensiva... Perdemos um dia com o problema no sistema elétrico e agora nossa partida para Coblença seria adiada novamente.... É que o regulador de tensão encomendado no dia anterior só chegaria pela manhã e marcamos de levar nossa F650st até a oficina para fazer a troca.

Aproveitamos o tempo antes da hora agendada para dar carga extra na bateria e construir uma base onde fixar a GoPro na moto. Gilson idealizou uma barra de alumínio dobrada em L, com diâmetro compatível ao suporte original da câmera. A barra fixada no espelho esquerdo permitia posicionar a câmera fora do campo visual da bolha. Mas, sem ferramentas adequadas, a fixação ficou ruim e Gilson achou melhor fazer a fixação "à moda antiga", seja lá o que isso queria dizer...

Brigite do lado da Big Fat - foto: Gilson

Chegamos à oficina pontualmente. A moto foi levada para dentro, o temporizador acionado e 20 minutos depois o mecânico informou que estava tudo pronto e funcionando. A tabela de preços atrás do balcão de atendimento ilustrava uma hilária lista de valores que crescia proporcionalmente à participação do proprietário na manutenção.

No estacionamento rolou um papo bacana com o motorista da Van com a logomarca da oficina que trouxe a peça recém instalada na nossa moto. Figura exótica com suas tatuagens, cabelos e barbas igualmente grandes, era proprietário da BMW customizada com adesivos de Big Fat. E era mesmo o que ela parecia, com micro lanternas e espelhos retrovisores. Deve ter sido um efeito parecido quando o proprietário, com quase 2 metros de altura, parou ao meu lado. Motociclistas sempre se entendem, mesmo quando não falam a mesma língua. Ficou lisonjeado pelo nosso interesse pela sua moto e mostrou respeito e uma certa desconfiança pela nossa determinação de viajar com uma moto de 20 anos.

Perdemos o resto do dia no comércio procurando alternativas para resolver a questão da GoPro, sem sucesso. Passamos ainda em três borracharias, mas só uma estava funcionando e tinha uma densa camada de poeira cobrindo os móveis. O proprietário ficou surpreso de estar diante de dois brasileiros e mostrou feliz seu conhecimento de espanhol. Era representante dos pneus que procurávamos, mas não os tinha em estoque. Por telefone conversou com o fabricante que informou que não encontraríamos o pneu num raio de 100 km. Era hora de encerrar as buscas por ali e tentar a sorte a partir de Koblenz, nosso próximo destino.

almoço no shopping - roupas lavadas - oficina no porão - suporte da GoPro

Fotos: Bárbara e Gilson

De volta à nossa base, era hora de finalizar os preparativos para seguir viagem. Quando saímos de Hamburg nossa bagagem estava excessivamente volumosa, por isso reavaliamos o conteúdo. Entregamos alguns presentes e reduzimos a quantidade de roupas, objetos variados e ferramentas que não seriam mais necessários, e combinamos que minha mãe se encarregaria de lavar esses itens de volta à Hamburg quando viesse visitar a irmã na semana seguinte.

Feito isto, fechei as malas e preparei sanduíches, enquanto Gilson terminava o tal "sistema de fixação à moda antiga", que consistia em faixas de borracha com 2 cm de largura, cortadas da câmara da ar que o borracheiro nos deu, enroladas em torno da barra de alumínio e do espelho, como se faz na forqueta de estilingue. Rá! Assim, finalmente, pudermos instalar a câmera na moto.

Margarete ficou comovida ao ver instalado dentro do seu carro o GPS funcionando sobre o novo suporte que lhe presenteamos. Valeu a pena poder vê-la assim.

"Auf gehts!" - E a Viagem continua

Já eram quase 18 horas quando partimos. Foi ótimo estar mais leve no peso e na alma. Nossa bagagem reduziu drasticamente, ficou praticamente pela metade!

O Maps nos levou por mais de 70 km de estradas rurais e secundárias através da Terra das Mil Colinas, no sentido sul, com diversas mudanças de direção. Passamos por bosques, campos e vilarejos medievais que inspiraram a escolha da trilha sonora do video abaixo.

De Epscheid a Koblenz por estradas secundárias - video: Gilson e Bárbara

Gilson tinha pressa e não quis parar para curtir o momento, pois ainda faltavam 80 km de autoestrada. Este trecho da A3 tinha o pior pavimento que já tive a chance de ver na Alemanha, não só pela cor cinza pálida, pela primeira vez vi fissuras e remendos, e havia uma incômoda trepidação que poderia não ser apenas causada pelo pneu dianteiro, já bem ruinzinho. Mesmo assim, Gilson voou. Depois de passarmos por uma floresta, a estrada deu uma guinada para se encaixar entre a encosta e o gigante Reno. Dali era possível ver a ponte e do outro lado a cidade de Koblenz. É um belo visual.

O hotel pesquisado ficava no coração da cidade, num edifício de vários andares que não tinha recepção. Gilson não gostou. A rua era gostosa com seu passeio público largo e arborizado. Na outra esquina estava o Ibis, onde decidimos ficar apesar da diária de 108 euros, 7 euros pela vaga na garagem e 24 euros pelo café da manhã para dois. Eram 20 horas quando nos instalamos e telefonamos para o amigo Carlos que mora na cidade. Ele nos convidou para encontrá-lo em sua casa, mas pediu que tocássemos a campainha uma única vez para não perturbar a vizinhança. Todos fechavam as portas, a rua estava deserta e economicamente iluminada. O apartamento era lindo com um terraço voltado para o parque à beira do rio Reno. O atraso de um dia nos tirou a oportunidade de passar o dia seguinte com nosso amigo, pois ele tinha compromissos médicos. Falando bem baixinho, ele nos deu várias sugestões do que fazer no dia seguinte, e um pacotão de balinhas de chocolate para adoçar sua ausência.

Decidindo o hotel - o jantar sobre a cama - moto no subsolo - com o amigo Carlos - Fotos: Gilson

De volta ao hotel, Gilson recebeu com tristeza a mensagem de César que estava na Itália, com quem nos encontraríamos em Innsbruck em dois dias. A mensagem de certa forma explicava aquela foto enviada dias antes:

"Queridos amigos, Tenho que pedir-lhes desculpas. Fiz um mau negócio, muito ruim mesmo. Fui enganado pelo afã e agora não tenho nada para fazer, exceto admitir a falha e beber vinho. O fato é que minha aquisição revelou-se uma completa fraude. Mas este não é o problema. O que mais lamento é precisamente não poder me reunir a vocês para um giro de moto e conhecermos juntos alguns passos europeus. Espero que não fiquem muito bravos comigo por esta falta. E desejo a vocês a mais brilhante aventura que possa ser feita sobre uma moto." (César)