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  • Foto do escritorBárbara

16° Dia - ESTRADA ALPINA DE GROßGLOCKENER - entre Bruck an der Großglocknerstraße e Heiligenblut

Atualizado: 24 de ago. de 2021



Heiligenblut, 09/08/2019 - sexta-feira.

Sabe aquela atração turística que você está doido pra conhecer? Que você acha que dá pra encaixar numa paradinha entre dois destinos, fazer umas Selfies lindas pra postar no Insta e seguir sua viagem de 300 km?


Bem, era mais ou menos este o nosso plano: sair de Bruck an der Großglocknerstraße, percorrer a mais conhecida estrada alpina da Áustria e pernoitar na Itália, na região das Dolomitas, num trajeto de aproximadamente 160 km. Parecia um bom plano, mas não foi isso que aconteceu.


É que levamos 6 horas para percorrer pouco mais de 67 km naquele dia, não porque o trajeto fosse difícil, mas porque era bonito demais para passar correndo. Quando percebemos, abrimos mão de continuar o percurso, sem arrependimentos.


É claro que daria para ter cumprido o plano. Mas se você gosta de curvas e aprecia a natureza em seu estado bruto vai querer prolongar sua permanência nesta Estrada Alpina que passa pelo maior parque natural da Áustria, localizado nas regiões de Salzburg, Tirol e Caríntia, passando ao lado da montanha mais alta do país, a Großglockner, que empresta seu nome à estrada. É a mais bela estrada panorâmica que percorremos até agora na Europa, com pavimento, traçado, e visuais fantásticos.


UM PASSEIO POR BRUCK


Chegamos a Bruck an der Großglocknerstraße no dia anterior por acaso, não tínhamos reserva de hotel e as escassas opções de hospedagem disponíveis no fim da tarde nos trouxeram para cá. Foi um feliz acaso. Acabamos dormindo tarde na noite anterior, bem depois que os últimos músicos da banda deixaram o terraço do hotel onde rolou um happy hour que entrou noite adentro.


O dia amanheceu lindo! Era o dia de percorrer uma das principais atrações desta viagem, a Großglocknerstraße, uma estrada alpina com uma das passagens de montanha mais altas da Áustria. Mas antes de pegar a estrada, quisemos conhecer melhor o centro histórico da encantadora vila de Bruck e procurar uma farmácia, porque aquela estranha tosse contraída em Hamburg ainda incomodava.


Os dois casais de Milão, que conhecemos no dia anterior, passaram por nós no caminho até a praça com suas BMW 1.200 GS, iniciando o percurso que também faríamos mais tarde. O plano deles era vencer mais de 200 km para dormirem já na Itália. Na farmácia fomos abordados em italiano por uma dama austríaca chiquérrima, curiosa para saber nossa origem e encantada com a brasileira falando fluentemente alemão. Parecia intrigada, como se estivesse diante de duas figuras exóticas que não correspondiam a seu imaginário. Gilson adorou conversar com ela em português, sem precisar de tradutor. Ela explicou que naquela região o alemão e o italiano são as duas línguas oficiais.


Bruck é uma vila alpina plana, localizada num vale largo e cercada de montanhas bem altas, com muita luz. Seu centro histórico fica confinado pelo rio Salzach e a encosta de uma montanha, e se concentra em torno daquela praça com a igreja católica de Nossa Senhora. É uma igreja neogótica construída em alvenaria de pedras, com três naves e com uma torre sineira de telhado pontudo, característico desta região dos Alpes. As recentes obras de manutenção e restauro deixaram o interior parecendo novo com as pinturas de cores vivas que cobrem as paredes. Vazia e silenciosa àquela hora da manhã é ao mesmo tempo robusta e acolhedora.


Satisfeitos com as compras e o passeio pela ensolarada e bem cuidada vila alpina, fechamos a conta no hotel, voltamos pra moto e seguimos viagem.



A ESTRADA E O PEDÁGIO
Estação de pedágio, Estrada alpinha de Gorssoglockner, Áustria. (Foto: Gilson)

Großglockner é a montanha mais alta da Áustria com 3.798 m de altitude. Do vale, onde se localiza Bruck, até seu cume, são 2.428 m, distância que a torna a segunda montanha mais proeminente dos Alpes, logo atrás do Mont Blanc na divisa da França com a Itália.


A estrada alpina de Großglockner é uma passagem de montanha entre Bruck an der Großglocknerstraße* (756 m) e Heiligenblut ** (1.288 m). É a segunda passagem de montanha mais alta do país. Seu o ponto mais elevado é a Edelweißspitze*** (2.571m) num trajeto com 36 curvas fechadas através do maior parque nacional da Áustria, o Parque Natural de Hohen Tauern, onde também se localiza o maior glaciar do país, o Glockner Pasterze****.


Pronuncie:

*GROOS-GLÔCKner-STRÁssã

**RÁiliguen-BLÚT

***Êdelwais-SPÍtzã

****GLÔCKner-pasTÊRtze


A estrada tem cobrança de pedágio e é transitável somente entre maio e novembro, das 6h às 22h. A estação de pedágio é uma bela construção em madeira localizada no vale ao norte da montanha, próxima de Bruck. O valor do Pedágio é bem alto e depende do tipo de veículo usado no percurso (veja aqui). O mais comum é o ticket de 1 dia, mas existem as opções para dois dias consecutivos, para 3 semanas ou toda temporada. Nós pagamos €26,50 pelo ticket de 1 dia, estando com nossa moto, em agosto de 2019.



SUBIDA PELA RAMPA NORTE

Havia pouco trânsito nas cotas mais baixas, onde a estrada corta pastos de um verde suculento. A medida que subimos pelas florestas de coníferas, o trânsito aumentou. Havia muitos ciclistas, motos, carros de passeio e vans. A partir da cota 2.000 m, onde a vegetação é substituída pelas rochas e a vista alcança quilômetros, o trânsito ficou bem intenso. Era alta temporada, coincidindo com o período de férias escolares. Muitos veículos iam e voltavam, passando por nós várias vezes ao longo do dia. Em especial um BMW Z3 branco conversível de Salzburg, com um único ocupante de expressão feliz. E as 3 Harleys com seus pilotos barbados, que subiam e desciam, como se quisessem extrair de cada centavo gasto no pedágio o máximo de prazer.


A pista simples e sem acostamento, curva após curva, exige atenção, principalmente aos ciclistas, que as vezes invadem a pista de súbito durante a tentativa de ganhar impulso na subida. O esforço deles é fenomenal: a cada 1.000 m a estrada sobe 120 m de desnível, durante 33km. A paisagem é muito bonita e a atmosfera clara permite vista a longa distância. Pequenos bolsões de parada, alguns com mesas e bancos, oferecem espaço de contemplação e descanso em pontos estratégicos.




PARADA 1: HAUS DER ALPINE NATURSCHAU, 2.260m

Localizado quase no topo de quem vem a partir de Bruck, fica localizada uma construção robusta em alvenaria de pedra que abriga um museu moderno dedicado a ecologia de alta montanha, a Haus der Alpine Naturschau. Não chegamos a conhecer o museu, mas nos demoramos admirando a paisagem e fazendo um lanche. Aqui conhecemos uma das pessoas mais simpáticas de toda viagem ao dividirmos uma mesa na área externa. Minha xará austríaca esperava o noivo voltar. Ela não quis ficar com ele no carro, por medo do seu entusiasmo ao volante, subindo e descendo a montanha com o conversível branco alugado em Salzburg. Curvas demais, rápido demais, na opinião dela.



EDELWEIßSPITZE - Pico Edelweiß - 2.571 m

O pico Edelwieß deve seu nome a uma pequena flor branca e carnuda com propriedades medicinais que cresce apenas nestas altitudes. Para chegar a ele é preciso sair da estrada e percorrer um caminho em paralelepípedos cheio de curvas que leva ao mirante.


Deixamos a moto no enorme estacionamento lotado na área reservada à motocicletas. Aqui é um ponto de encontro de motociclistas com restaurante e decks que oferece vistas sensacionais. No topo da Edelweiβspitze tem-se a impressão de estar numa linha divisória entre céu e terra. A perspectiva a 360° sobre a atmosfera luminosa, seca e azul contrasta com o horizonte irregular e rochoso da cordilheira com pouquíssima neve remanescente. As curvas da estrada são claramente reconhecíveis. Mas os detalhes cedem a vez para a amplidão áspera da paisagem. Daqui, só para baixo, ou uma pernada pelo dorso da montanha.

Muitas pessoas ocupavam o mirante acessível a portadores de necessidades especiais. Nenhum poderoso Ibex ou marmota fofa à vista ao sol das 14h. Apenas cães, que viajavam com seus tutores, pareciam querer se conhecer uns aos outros, assim como as pessoas que com a leveza das férias pareciam mais dispostas a fazerem contato com estranhos.

E ali, naquela multidão de gente havia um garoto emburrado. Toda sua postura, os punhos cerrados, os músculos da face e do corpo tensos, denotavam que estava contido pelos métodos de educação europeus, que não permitem que um indivíduo perturbe o resto da comunidade. Ele queria mesmo era correr por aí, parecendo incorporar a energia do Ibex, mamífero bovíneo caprino símbolo do parque. Gilson estava prestes a inserir uma moeda na máquina que produz medalhões com o emblema da Estrada, quando viu o garoto e o chamou. Perguntou a ele com ajuda de mímica se ele queria produzir pra nós o medalhão. Ele respondeu que sim num entusiasmado italiano e, com a anuência dos pais, pegou a moeda, inseriu na máquina e girou a manivela com tanta força que parecia querer transportar a plataforma para o outro pico. Após 5 voltas completas, o mecanismo liberou o medalhão curvo que o garoto segurou como se fosse uma relíquia mágica. Mas Gilson disse que este era o nosso e deu a ele outra moeda para produzir seu próprio e ele logo se lançou à tarefa.




FUSCHER TÖRL, 2.428 m

Descendo pelos paralelepípedos no retorno à estrada, chega-se à imagem mais conhecida da estrada, onde ela abraça o pico e começa a descer pela vertente oposta. Deste mirante tem-se uma vista desobstruída das curvas da estrada subindo pelo flanco rochoso norte. A descida pelo outro lado é menos íngreme e se desenvolve entre vegetação rasteira até chegar ao Fuscher Lacke (2.262 m), um pequeno lago alpino onde fica um centro de documentação de construção da estrada.




PARADA 3: PASSO HOCHTOR, 2.504 m

O segundo túnel, no sentido da Heiligenblut, é uma parada quase que obrigatória, pois é o passo ou passagem propriamente dito, onde a vertente norte encontra a sul. O túnel que caracteriza o passo fica completamente coberto de neve no inverno, e é onde parte da neve se mantém mesmo no alto verão e onde fui alvo de uma guerra de bolas de neve iniciada por um Gilson feliz.


O trajeto continua descendente por inúmeras curvas com a estrada praticamente vazia até chegar à bifurcação que leva ao glaciar.




PARADA 4: KAISER FRANZ-JOSEF-HÖHE E GLOCKNER PASTERZE (2.369m)

Gilson não corre, passeia e retoma a subida com um motociclista apressado que nos ultrapassou em frente à entrada do túnel. De nada adiantou a ultrapassagem perigosa porque chegamos juntos ao estacionamento gratuito de vários andares localizado no final da estrada. Enquanto Gilson travava a moto, ouvi uma garupa reclamar com seu piloto, cansada de ouvir ele esbravejar por não encontrar sua chave sempre que voltavam dos passeios. Não consegui conter um sorriso de empatia. É por isso que cada um de nós tem uma chave e é responsável por ela. Isso nos dá autonomia para acessar o que é necessário e tranquilidade no caso de perda.

- Não ria - pediu ela quando me viu sorrindo, disfarçando o próprio sorriso - é sério, ele sempre esquece!

Para chegar aqui há apenas duas formas: pela estada por onde viemos ou uma difícil transposição a pé por trilhas na montanha, como fez o imperador austríaco em 1856. Naquela época a geleira chegava até onde hoje é o estacionamento. As medições anuais indicam que o glaciar está encolhendo sem se recuperar no inverno seguinte. Tive uma certa surpresa ao encontrar o glaciar, naquela altura do verão estava bem encolhido. Mesmo assim, a mais de 1 km de distância do final da geleira, o ar estava mais frio, seco e eriçante que em qualquer outro ponto da estrada. Ironicamente, a estrada traz para cá em torno de 900 mil veículos por temporada, veículos que emitem os gases causadores de efeito estufa que por sua vez aceleram o derretimento de glaciares como este.

Aqui, no Franz-Josep-Höhe, encontra-se um centro de informações ao turista com diversas exposições, mirantes, restaurante, lanchonete, atividades interativas e trilhas guiadas. Estávamos com muita fome. Fomos em busca de um Kuchen mit Kaffee und Cola (cuca com café e refrigerante), mas estava tudo tão lotado que nos contentamos com picolés consumidos caminhando à beira do precipício. Apenas um guarda-corpo metálico nos separava dele, que recebe o gelo derretido formando um pequeno lago de águas turvas no fundo. Estávamos tão imersos na observação e nos pensamentos que nem lembramos de registrar o momento. Uma tristeza, porque sentimos falta destas fotos. Ali reencontramos o menino-Ibex que, além de pai e mãe, tinha também uma irmã menor, com quem brincava extravasando toda sua energia num parquinho. Nos cumprimentamos com entusiasmo.


Já eram 16h. Há muito o que ver e fazer aqui, mas nos demoramos apenas 45 minutos, porque ainda queríamos vencer um bom trajeto antes de escolher um local para pernoitar.


HEILIGENBLUT

Continuamos nosso caminho descendo pela encosta entre florestas de coníferas e campos verde-dourados com o sol na altura dos olhos, até o vale naquela curva onde fica a igrejinha branca com sua torre alta de telhado pontudo e a montanha do Großglockner ao fundo. É uma linda paisagem que fez Gilson dar meia volta e perguntar se eu queria ir ali para dar uma olhada.


Já eram 17h, o plano era rodar por mais uma hora antes de parar e procurar uma pousada, mas pareceu um desperdício não aproveitar aquela oportunidade.


- OK! Vamos comer alguma coisa.

Era Heiligenblut, a pequena vila que marca o fim da estrada alpina de Großglockner, e é absolutamente encantadora. Sentamos no terraço ensolarado ao lado da praça central e fizemos nosso pedido. A cerveja alcoólica que Gilson pediu sacramentou o fim do deslocamento do dia. Gilson encontrou a forma deliciosamente perfeita de impedir qualquer objeção de minha parte ao seu desejo de permanecer. E foi assim que abrimos mão, de bom grado, dos planos e nos hospedamos no hotel ao lado da Praça, em frente a estação de teleférico.



Deixamos a moto na garagem do subsolo e fomos tomar banho no nosso amplo e confortável quarto com banheira e sacada. Depois caminhamos pelas ladeiras da vila, contornando a bucólica igreja católica de São Vicente que guarda as relíquias de Briccius, o cavaleiro das cruzadas. Diz a lenda que Briccius, ao voltar de Constantinopla levando consigo um frasco contendo o que seria o sangue de Cristo, encontrou a morte ao ser surpreendido por uma tempestade nestas montanhas. Heiligenblut, do alemão: Sangue Sagrado. A igreja católica não reconhece Briccius como Santo, mas isso não impede a peregrinação anual à igreja pelos fiéis que consideram Briccius o padroeiro dos viajantes.



Em torno da Praça começou uma movimentação de pessoas em trajes típicos. A Praça recebeu bancos e a apresentação do Coral juvenil que, com suas vozes tímidas, suaves e límpidas, nos remeteu ao filme Heidi. A banda de metais seguiu à apresentação com um repertório de canções austríacas, muito bom e divertido, enquanto que duas moças, levando a tiracolo um barrilzinho e copinhos, pediam uma contribuição para a manutenção daquela Musikkapelle oferecendo aguardente.

O clima na Praça era leve e divertido, mas nos recolhemos cedo, pois ainda precisávamos liberar nossas câmeras da enorme quantidade de videos e imagens registradas ao longo do dia.



Viaje no video do dia e Boas Curvas!
Não esqueça: Make Life A Ride!
 

O Dia em Números:

Deslocamento: Trajeto de Bruck an der Glocknerstraße a Heiligenblut


  • Distância percorrida de moto = 67,70 km ≈ Duração = 6h.

  • Início 11h30min. - Fim 17h30min.

  • Paradas e atrações: Estrada Alpina do Großglockener, Haus Alpine Naturschau, Edelweißspitze, Cachoeira Energiedusche, Kaiser-Franz-Joseph-höhe, Glaciar Glockner Pasterze, Heiligenblut


Despesas Básicas:

  • Deslocamento: € 0,00

  • Hospedagem em Heiligenblut: € 119,80

  • Alimentação: € 37,40

  • Ingressos: € 26,50 (pedágio)

  • SUBTOTAL A - € 177,40

Custos de manutenção:

  • Serviços: € 0,00

  • Peças: € 0,00

  • Ferramentas: € 0,00

  • Material de consumo: € 0,00

  • SUBTOTAL B - € 0,00

 
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