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Voo a Hamburg

Atualizado: 24 de ago. de 2021


Amanhecer sobre águas internacionais com lua cheia. Foto: Gilson


Um capacete de moto é o único compartimento fechado onde me sinto livre, não importa quanto tempo eu o use. Acho que essa percepção vem da criação de um ambiente propício a meditação proporcionada pelo isolamento do casco. No seu interior a concentração é total, seus sentidos ficam mais aguçados e paisagem, sons, vento, temperatura, condição da estrada, fluxo de veículos, movimentos do seu companheiro, vibração do motor, qualquer movimento, tudo vira estimulo que percorre seus neurônios numa sinfonia de impulsos elétricos. Você já cantou uma música dentro do capacete sobre a moto em movimento e teve a impressão de ouvir todos os instrumentos musicais de acompanhamento? Se não tentou, deveria, e não precisa de nada além de um capacete e uma moto em movimento por um belo caminho. E enquanto sua cabeça está encapsulada, seu corpo está ao vento, num voo ao rés do chão. Fantástico!


Diferentemente é o voo literal, aquele de avião para Alemanha, que foi longo, demorado e me obrigou a permanecer em aeroportos e aeronaves que não são meus lugares favoritos para estar. Mas encaro essa viagem com tranquilidade porque a parte boa é o que vem a seguir. Com essa ideia em mente, partimos de Florianópolis com destino a Hamburg, tendo duas escalas, uma em Guarulhos e outra em Amsterdam. Esqueci de pedir uma refeição vegetariana, e dei azar de só haver frango no jantar do voo internacional. Deixei meu frango para o Gilson e ele cedeu o arroz com legumes para mim, foi bom assim. Não me canso de observar o Gilson durante o voo. Ele não sofre desconforto como eu em ambientes fechados e parece se divertir com todas as situações que um voo internacional apresenta. Ele observa as pessoas, conversa com elas, assiste filmes, ouve música, perambula por toda aeronave e desembarca bem disposto no destino, depois de longas 24h, como se tivesse ido só até ali. Minha mãe também encara muito bem a travessia. Ela é serena, elogia a comida, bebe vinho, conversa com o passageiro a seu lado e sempre assiste algum filme, mas não dorme em nenhum momento. Ficar acordada por 24h a deixa desorientada, a ponto de não ter certeza para onde e em que direção estamos voando, por isso a importância de estar sempre acompanhada. As limitações da sua idade teriam colocado um fim às suas idas à terra Natal, Alemanha, não fossem alguns direitos que facilitam a vida do viajante idoso ou portador de necessidades especiais. A agência de viagens acionou a assistência para minha mãe em todo o trecho, dessa forma nós éramos os primeiros passageiros a embarcar e os últimos a desembarcar, não fomos pressionados a andar depressa pelos demais passageiros e minha mãe não correu risco de, com isso, sofrer lesões. Também foi bom termos mais tempo de nos acomodar e recolher os pertences com calma à saída. Sempre antes do embarque um funcionário da companhia aérea ou da Cruz Vermelha conduzia minha mãe numa cadeira de rodas até a porta da aeronave e nós os seguíamos. Nas conexões, nos aguardavam com uma cadeira de rodas na porta da aeronave e nos conduziam até o próximo portão de embarque ou a uma sala de espera. Foi uma facilidade enorme sermos guiados pelos enormes aeroportos onde as distâncias são medidas em quilômetros, longe demais para minha mãe caminhar e cansativo de se orientar.


Embora o direito a assistência seja ampliado a apenas um familiar por idoso, em Amsterdam a funcionária permitiu que Gilson e eu entrássemos como acompanhantes no carrinho elétrico, que além de nós não levava mais ninguém. Passamos assim pela migração onde o policial federal foi até o carrinho, recebeu os passaportes sem desembarcarmos e fez as perguntas de praxe com uma simpatia atípica para um agente federal nessa função. Depois fomos conduzidos até a sala de espera da KLM para aguardar o voo da última conexão. O aeroporto tinha todas as características da arquitetura dos países nórdicos, é clean, funcional e com muita luz natural. Por tudo isso gostei de estar em Amsterdam, me senti respeitada e bem-vinda e fiquei com vontade de permanecer mais tempo nessa cidade.

Voo: Florianópolis - São Paulo - Amsterdam - Hamburg

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Nosso destino final era Hamburg, meus tios nos aguardavam no portão de desembarque e logo perceberam que minha mãe estava exausta. Fomos de metrô até a área Central, onde minha mãe ficaria hospedada com sua irmã. Enquanto Gilson e meu tio aguardavam com nossas malas na estação de Mundsburg, eu acompanhei minha mãe e tia até o apartamento para ajudá-las com a bagagem.


Depois continuamos de metrô até Harburg onde eu e Gilson fomos alojados no mesmo anexo de hóspedes do ano anterior. A proprietária do anexo nos mostrou entusiasmada tudo o que havia preparado para nos sentirmos bem vindos e confortáveis e meu tio serviu uma saborosa sopa e nos entreteve com um bom papo de boas vindas. Depois sentamos com nossos anfitriões no seu jardim encantado, que agora tinha uma pérgola que protege a mesa e bancos do sereno e chuva. Bebemos vinho e conversamos até pouco antes da meia-noite, quando o cansaço nos venceu e Gilson já começava a "pescar" sentado à mesa.


Combinamos de dormir sem hora para acordar. Precisávamos estar com toda disposição na manhã seguinte, porque o trabalho na nossa moto estava apenas para começar e eu ainda precisava me certificar que minha mãe estaria bem o suficiente para podermos começar nossa aventura em duas rodas.



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