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  • Foto do escritorBárbara

11° Dia: "Anlieger Frei", Gigantes, Bruxas e o Castelo de Altena - em Sauerland

Atualizado: 22 de ago. de 2021


Epscheid, 17/06/2018 - Domingo


G., a ruiva, chegou no meio da manhã. Ela queria nos levar a um de seus lugares favoritos na região - Burg Altena - a 30 km de distância, um castelo fortificado que sedia o primeiro albergue da juventude da história, fundado em 1914 dentro das muralhas do castelo medieval, onde minha mãe já havia pernoitado em suas muitas andanças na companhia de amigas e colegas de escola durante sua juventude. Eu não estava entusiasmada, mas Gudrun é uma pessoa incomum, criativa e empolgante, assim fomos de bom grado pelo prazer da sua companhia. Entramos no seu carrinho vermelho equipado com um martelinho cuja função é quebrar o vidro no caso do carro cair no rio e ela não conseguir sair. - Que bobagem! - pensei. Mas então ela começou a dirigir: - Sobe montanha - desce montanha - curva a direita - a esquerda - há, não! é direita! - Corrige o curso - Acelera que vem uma reta - Acelera na curva também porque a subida é íngreme! - Ela tomava caminhos alternativos saindo das estradas oficiais e passando por estradas secundárias estreitas no meio do bosque, que ia ficando denso e escuro a medida que avançávamos e, de repente, clareava. Depois aparecia um Feld (campo) cheirando a esterco fresco e logo em seguida mais um pequeno povoado de três ruas, seguido de um campo de aspargos, o sítio mais limpo da redondeza, e mais um bosque morro acima. Saímos do bosque e voltamos para a estrada oficial, uma longa e entediante reta. "V. vai nos encontrar no caminho, vamos almoçar juntos, mas ele não vai ao Castelo porque domingo é o dia dele andar de moto". V. é o marido de G. Mal ela disse essas palavras e um vulto vestido com colete fosforescente nos ultrapassou tão rápido que nem conseguimos identificar o que era. - "AHA! Da ist er." (AHA, olha ele aí) Mas já tinha sumido do alcance da visão. Pouco depois nos ultrapassa novamente (como assim?!) e fez sinal para encostarmos. Era uma Triumph 1.200 e o piloto que vinha montado nela era enorme! Sentado, com os pés apoiados no chão, as pernas ficavam dobradas, e de dentro do capacete os olhos agudos e uma voz que sugeria um caminho alternativo para chegar a Altena - descendo por aqui -.


Seguimos a moto que novamente sumiu de vista. Aquela era uma estrada "Anlieger Frei"(passagem livre apenas para residentes), igual às que tínhamos percorrido a pouco. Trata-se de caminhos estreitos ou trilhas asfaltadas exclusivas para acessar as propriedades e os negócios ali situados.

"Se tiver fiscalização a multa é de 20 euros, mas são os caminhos mais bonitos, pelo meio dos bosques, aí você encara a multa como pedágio, vale a pena!". Ela tinha razão quanto a beleza do caminho. Gilson ficou impressionado com a quantidade de verde que encontramos nessa região, alternando entre reflorestamentos (há muitos pequenos silvicultores) e Mischwald (florestas de vegetação nativa em regeneração). Os Alemães estão há 30 anos num esforço progressivo de renaturalizar os biomas, retirando as canalizações dos rios, as impermeabilizações do solo e deixando a natureza seguir seu curso. Talvez por isso o canto dos pássaros tenha me impressionado tanto desde que cheguei, eu não tinha essa lembrança da última vez que estive aqui há 30 anos quando esse processo começou. A estrada era uma longa descida em curvas pela montanha através da floresta, a medida que descíamos ela ia ficando de esparsa com muita luz natural a mais e mais densa, e quando pensei que nunca mais veria a luz do dia, surge timidamente a cidade de Altena no vale do rio Lenne, espremida entre duas encostas totalmente tomadas pelo verde da área de proteção ambiental! É V., você tinha razão, esse caminho é um mundo a parte valeu cada metro percorrido!


fonte: https://www.bussgeldkatalog-mpu.de/bussgeld/verkehrszeichen/anlieger-frei-bedeutung.php

Um círculo vermelho sobre fundo branco é proibição de passagem, se houver uma imagem dentro do círculo a proibição é específica para aquele elemento representado, pode ser moto e/ou carros e/ou caminhões. O círculo somado à plaquinha branca "Anlieger frei" (livre apenas para residentes). Estacionamos na beira-rio logo abaixo do Castelo, que coroava o divisor de águas da colina e era visível de qualquer ponto da cidade. V. nos esperava com todos os seus quase dois metros de altura. Agora vendo-o em pé parecia ainda maior que antes! Ele tinha pressa, queria almoçar e voltar a seus passeios de moto, e com razão, ali é um paraíso para motociclistas: estradas boas com traçado variado, trânsito reduzido e paisagens lindas. A maior parte do trânsito naquele dia foi mesmo de motociclistas. Ele nos deu várias sugestões de estradas a percorrer na direção do sul, para onde queríamos ir. Achou engraçado nós estarmos com uma moto de quase 20 anos, foi provocativo desdenhando suas linhas arredondadas e antiquadas, e seus olhos revelaram espanto quando soube que queríamos passar pelo Timmelsjoch. Analiso a situação: cedo à provocação, explico e deixo meu almoço esfriar? Pode esperar sentado, grandão! "Guten Appetit!". O papo foi bom, esse casal é único, autênticos, abusados e prestativos. Ficamos juntos apenas até pagarmos a conta, então V. se despediu e foi buscar sua moto, enquanto nós acompanhamos G. ao elevador mais divertido que já vi. Para chegar até ele entramos no hall de acesso ao castelo, localizado no nível da rua e escavado na rocha da colina. Passadas as catracas da bilheteria segue-se por um corredor escuro com vários pontos de informação interativa animadíssima. Se, assim como nós, você tiver uma alma curiosa, então vai se arrepiar com a lenda do gigante Wackebold que, pelas características físicas e temperamentais, certamente foi um antepassado de V. Rá! O elevador seria um simples elevador com apenas dois pontos de acesso, distantes 90 metros um do outro, não fossem os quatro personagens que contam a história e as lendas do Castelo estarem também ali esperando o elevador conosco. Mas eles não conseguem entrar quando o elevador chega, e o que eles fazem então deixo para você descobrir por sua conta. Quando as portas do elevador se abrem lá em cima chega-se ao pátio medieval formado pela muralha, torres, rampa de acesso, palácios e uma comprida construção de serviços. O contraste entre o hall escuro-tecnológico e o pátio medieval intacto banhado de luz natural é superlativo e só isso já vale o ingresso de 9 euros. Não vou descrever esse passeio, deixo as fotos falarem por mim, mas aconselho a fazer o trajeto que fizemos: subir pelo elevador, explorar o pátio, subir a torre de menagem, conhecer a primeira pousada da juventude do mundo, percorrer o Museu e terminar descendo à Altena atravessando o portão medieval pela antiga via íngreme até o rio Lenne.



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Terminado o passeio ficamos descansando no pátio à uma mesa. G. dizia que gosta de imaginar que já viveu aqui, pois se sente muito a vontade e sempre tem prazer em voltar. Fizemos um mini piquenique enquanto observávamos um grupo de pré-adolescentes sair do elevador. Estavam todos animados, cada um trazia um galho retilíneo do comprimento aproximado de um antebraço. Vinham guiados por uma mulher de expressão severa, mas com brilho divertido nos olhos, o mesmo brilho dos olhos de G. Ela também trazia o mesmo objeto dos garotos e vestia um longo vestido preto e um chapéu comprido pontiagudo. Sob sua orientação as crianças formaram um círculo e começaram a ensaiar gestos e sequências de movimentos recitando um verso ritmado. Era a comemoração de um aniversário de 10 anos, ambientado num castelo-museu amigável ao criativo público infanto-juvenil. G. imediatamente se identificou com o que viu e foi confabular com a colega.


Roda de bruxos e bruxas comemorando um aniversário temático no castelo


Depois de descansados, descemos à cidade pelo caminho medieval que, segundo Gilson, lembra a subida à Prainha da Barra da Lagoa em Florianópolis. Lá em baixo as pessoas estavam reunidas em frente às telas de TV que transmitiam um jogo da copa, e pelo silêncio e expressões tensas era evidente que o time alemão não estava tendo um bom desempenho. Deixamos a copa para trás e retornamos de carro pelo mesmo caminho da vinda. Gilson desta vez sentou atrás e ficou vendo as fotos do dia no celular enquanto o carro se lançava entre curvas e ladeiras. Faltando pouco para chegarmos "em casa" ele avisa que está mareado e diz que agora entende o que as crianças costumam sentir e reclamar no banco traseiro de um carro em movimento...


Então, caro amigo, fica aqui um conselho precioso: em terras de bruxas e gigantes, melhor ficar de olho na estrada, pois os donos dessas terras são bem abusados, mas são bons amigos para conviver e manter.




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O dia em números:

Deslocamento:

  • De Epscheid a Altena e volta (de carro)

  • Distância percorrida = 90 km ≈ Duração = 1h30m​

  • Início: 11h - fim: 17h

Despesas:

  • Combustível € 0,00

  • Moto (peças e serviço) € 0,00

  • Estacionamento € 0,00

  • Transporte público € 0,00

  • Hospedagem € 0,00

  • Alimentação € 20,00

  • Ingressos € 18,00

  • Presentes € 0,00

  • Outros € 0,00

  • TOTAL € 38,00

Serviço:

 

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