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ACLIMATAÇÃO - 4 DIAS DE MANTUTENÇÃO - parte 2

Atualizado: 24 de ago. de 2021

Passamos grande parte dos primeiros dias em Hamburg em lojas de artigos para motociclistas, material de construção, oficinas mecânicas especializadas em motocicletas, concessionária da BMW e fornecedores de artigos para mecânica. Gilson adorou fazer compras. Nossa rotina incluía trabalhar na manutenção da moto, providenciar os materiais necessários e passar alguns momentos com a familia. Entre estas atividades principais, procuramos nos adaptar ao trânsito, à forma como o comércio e serviços são regulamentados e ao modo de vida local, e sem descuidar daquelas obrigações que fazem parte de todas as viagens, como lavar roupas e comprar comida. Ainda sobrava um tempinho à noite para mandar notícias ao Brasil e planejar o dia seguinte. Foram dias cheios, que exigiram muito de nós, mas conseguimos fazer quase tudo o havíamos programado.


Nosso amigo César estava na Itália, visitando sua famila e procurando uma moto para comprar, mas ainda não tinha encontrado uma combinação de moto e seguro que o deixasse satisfeito. Programamos nos encontrar em Innsbruck, de onde seguiríamos juntos pelos Alpes Italianos e Austríacos, o que seria em pouco mais de 10 dias. César via o prazo encurtar e conversava com Gilson diariamente tentando tomar a decisão mais acertada e aplacar sua ansiedade.



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Enquanto César lutava contra o tempo, sofríamos um choque cultural. No primeiro dia fomos ao Centro de Hamburg usando o metrô. Outros usuários nos ajudaram a embarcar do lado certo da plataforma, e o que aconteceu na estação final deixo o Gilson contar:


"Ao sair do metrô, estava deslumbrado com tudo o que via, ouvia e sentia. De repente, observei um grupo de crianças com idade de quatro a cinco anos, falando alemão, é claro, todos de coletes sinalizadores reflexivos, e duas professoras jovens em silêncio comandando a tropa. Fiquei encantado e pensei: - Opa! Vou fazer uma fota - Quando preparava em posição sélfica, de costas para o grupo, o melhor ângulo, ouvi um falatório alto que naqueles segundos achei tratar-se daquelas professorinhas dizendo: - Olha, o tio vai fazer uma foto! - Que nada. A professora estava brigando comigo e eu não entendia nenhuma palavra."


Eu ia mais à frente, quando ouvi o burburinho ganhar corpo e volume, me virei e vi a professora com uma das crianças que dormia no seu colo, gesticulando e exigindo em tom ameaçador: - Delete! Delete! - Sem entender a reação da professora, Gilson mostrou a única foto capturada, a do próprio rosto contrariado. Calmamente, traduzi o que ele dizia e, olhando para a criança no colo da professora, alertei para o exagero da sua reação, pois Gilson era um turista recém chegado ao país e não estava familiarizado aos costumes locais. Ela foi inflexível, disse que o entendimento de privacidade é internacional. Sim, ela tinha razão. Então, não era a pedofilia que a preocupava, mesmo porque qual é o pedófilo que faz selfie com um grupo de crianças num lugar público e na presença de duas professoras? Não. Ela brigava pelo direito de ser deixada em paz. Me pareceu que ficou ofendida por Gilson não ter obedecido imediatamente a sua ordem. Provavelmente também temia ser processada caso os pais descobrissem que uma imagem não autorizada de seus filhos se tornasse pública. Isto explicaria a falta de cuidado com o impacto do seu escândalo sobre as crianças, uma delas acordando assustada no seu colo. Entendemos os possíveis desdobramentos de fotografar pessoas sem sua concordância mas, eu esperava mais equilíbrio e capacidade de lidar com o inesperado de alguém em sua posição. Quanto ao Gilson, ele entendeu que Alemanha é diferente do Brasil e perdeu parte do encantamento. Quando aparecia alguma criança, saía do seu caminho.


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Ainda impactados pela agressividade desnecessária, fomos ao centro comercial onde compramos dois Chip de celular com pacote de dados de internet. Também compramos um cabo de alimentação de celular, danificado durante o voo, numa enorme loja de eletrônicos que nos fisgou pelo preço de uma câmera de ação. Era o exemplar dos nossos sonhos, 35% abaixo do valor normal da câmera no Brasil. Como era a única, e sem estoque nas filiais, compramos a câmera, cartão de memória e acessórios de fixação causando frustração num casal que aguardava atendimento e interessado na mesma pechincha. Saímos cheios de expectativas positivas, esperando que esse dinheiro não fizesse falta mais tarde. Na volta para casa, uma moça muito simpática nos orientou a escolher o lado certo da plataforma de embarque. Conversamos despreocupadamente até nosso metrô chegar no exato minuto anunciado nas telas.


A necessária adaptação da base do Top Case ao bagageiro da BMW nos levou a uma loja de material de construção recomendada por meu tio, que desenhou caprichosamente numa folha de papel o caminho exato para chegarmos até lá. A loja era enorme, muito completa e organizada para funcionar em sistema self-service, até mesmo para objetos pequenos, como parafusos. Havia um setor muito completo dedicado a todo tipo de ferramenta elétrica manual hobby e profissional. Aqui compramos a placa de aço perfurada, ferragens, tubo de alumínio e ferramentas que mais tarde usamos para construir um sistema intermediário que permitiu fixar o Top Case ao bagageiro apesar dos furos de um não serem alinhados com o do outro.



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Com a internet ativa estávamos prontos para enfrentar a maratona de compras de moto! No primeiro dia perdemos o acesso da via expressa à Hamburg. Decidimos permanecer na avenida, que mais à frente dá acesso a auto-estrada. Estávamos parados num cruzamento esperando o sinal abrir quando ouvimos uma sirene se aproximando pelas nossas costas e Gilson optou por ficar parado, apesar do sinal abrir. Levamos um susto daqueles quando uma voz rosnou uma ordem ininteligível pelo alto-falante, competindo com a sirene. A ambulância se aproximou pela mesma faixa em que estávamos e, desviou de nós pela direita seguiu em frente. O que foi dito? Não tenho ideia, deve ter sido algo como "Sai da frente, seu f.d.p." , Depois aprendemos que deixar livre o corredor de resgate entre as pistas onde há engarrafamento é praxe no país. Mas, com duas pistas completamente livres, nem nos ocorreu essa necessidade.


É bom andar de moto novamente! Contornamos a cidade pela auto-estrada que passa por uma bela paisagem fluvial cheia de charcos e por áreas enormes de florestas. Foi fantástico andar nessa paisagem a mais de 120 km/h em estradas de superfícies perfeitas, onde todos os condutores praticam direção defensiva com fluidez. Mas também havia obras e enormes congestionamentos causados por elas. A transição com as vias urbanas se dá através de viadutos, curvas e colinas configuradas como barreira acústica para proteger áreas residenciais. No trânsito urbano os Hamburgeses respeitam as regras de trânsito, mas são impacientes e adoram a buzina, acionada sem hesitação quando o semáforo muda para verde. Os cruzamentos das ruas são complexos, com várias faixas, cada uma com direcionamento específico. A fila de veículos é enorme e, lá de trás, nem sempre dá pra ter certeza de estar posicionado corretamente. Conseguimos nos orientar, mas foi meio estressante no primeiro dia.



Adaptação à moto, ao trânsito e navegação:

Ao dobrar à esquerda, mesmo que o sinal esteja verde para você, aguarde que os veículos do contrafluxo sigam, antes de fazer sua manobra.


Começamos pelas quatro filiais da Louis nesta cidade, uma delas um mercado de pulgas onde Gilson comprou um par de botas excelentes. Louis é o paraíso dos motociclistas, onde você encontra todo o necessário ou desejável para sua viagem de moto, com a garantia do prazo de dois anos para devolução em caso de defeito. Os vendedores ficam disponíveis para assessoria e verificar o estoque, que é enorme. Há também poltronas, provadores de roupas, banheiros e café, porque há muito para ver. Foi aqui que compramos o Manual de Manutenção e Reparos da BMW F650, óleo de motor, luvas de mecânico, kit primeiros-socorros, viseira nova para o capacete do Gilson e ferramentas. Também recebemos indicação dos melhores lugares para a troca de pneus e de compra de peças de motocicletas.


Estávamos cansados, desde cedo fazendo compras e já era quase hora de fechar. Inseri no Maps o endereço do fornecedor de pneus enquanto Gilson manobrava lentamente no acostamento para chegar à pista oposta, quando a moto apagou, inclinou e caiu. Gilson ficou super envergonhado por ter uma platéia de motociclistas assistindo. Rapidamente, levantou e quis ajuntar a moto, mas não conseguiu porque eu estava presa. Deitada no chão e apoiada sobre o cotovelo, fiquei feliz de estar protegida pela minha jaqueta de cordura. - Caramba, como é que meu pé entrou aí? - Meu pé encaixou e prendeu no suporte da mala lateral e eu não conseguia libertar meu pé! Tive que usar as duas mãos num forte impulso para conseguir tirá-lo no momento em que um motociclista chegou para ajudar. Ele procurou saber se estávamos bem e tentava não deixar o Gilson mais constrangido que já estava. Saímos de lá inteiros, exceto pelo orgulho ferido e o manete da embreagem que se curvou um pouco. Alguns metros depois estávamos rindo muito, imaginando a cena do ponto de vista dos colegas. Mas aquela queda nos lembrou que acidentes acontecem e o cansaço é um fator que induz ao erro. Numa auto-estrada as consequências seriam completamente diferentes.



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Com esse pensamento chegamos ao fornecedor de pneus. Por imposição da lei alemã, veículos licenciados no país precisam ter todos os pneus do mesmo fabricante, inclusive com responsabilização dos fornecedores/instaladores. O pneu dianteiro, além das fissuras e do ressecamento da borracha, tinha as barras de contato com o solo desgastadas irregularmente. Era um pneu antigo e fora de linha que queríamos substituir por outro do mesmo fabricante, mas fomos confrontados com a questão do limite de estoque. Seria necessário encomendá-lo, o prazo da entrega era de 48 horas e teríamos que agendar a instalação. A alternativa mais rápida seria trocar os dois pneus por dois disponíveis de outro fabricante. Instalados ficariam por mais de 390 euros. Optamos por aguardar e procurar uma oficina que também pudesse fazer a substituição do fluido dos dois sistemas de freio. Se não encontrássemos em Hamburg, procuraríamos ao longo do nosso percurso. Foi um erro que mais tarde tomaria dois dias do nosso roteiro.


Meio frustrados com as limitações que a eficiência alemã estava nos impondo, chegamos à oficina mecânica multimarcas especializada em motocicletas onde fomos atendidos com muita atenção pelo proprietário, que também era motociclista. Relatamos a ele como a ciclística estava ruim e pedimos seu conselho. Imediatamente ele foi verificar os pneus, confirmando a suspeita do Gilson em relação ao pneu traseiro, que ainda estava bom, mas com a banda de rodagem planificada na área central, o que lhe dava um perfil levemente retangular, dificultando as manobras em curva. Assim como em outras oficinas, aquela também estava com o pátio lotado e ele nos alertou que, por ser verão, seria difícil conseguirmos agendar o serviço a curto prazo, mas recomendou a troca de ambos os pneus como solução do problema. Foi uma conversa com um genuíno interesse mútuo.


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Era hora de providenciar as peças na concessionária BMW, uma loja de arquitetura moderna que dava destaque aos produtos da marca, desde as tampas de ventil com emblema da marca, até os modelos de motos em lançamento. O atendimento foi eficiente, atencioso e exemplar, sem o costumeiro ar de desafio característico dos vendedores da marca no Brasil. Ele nos mostrou o manual on-line de peças e a seqüência de montagem, que nos ajudou a identificar com clareza aquelas que realmente precisávamos. Aqui encomendamos a torneira do tanque de combustível, pisca dianteiro, filtro de óleo do motor, parafusos para carenagem e um novo suporte de estojo da fechadura da mala lateral. A encomenda deveria chegar em 48 horas, mas chegou um dia antes.


O chefe dos mecânicos não tinha espaço na agenda para instalar o suporte do estojo na mala, mas quando viu que Gilson já tinha removido o suporte da mala, se dispôs a cambiar o estojo de um suporte ao outro ali mesmo, em pé na nossa frente. Ele tomou o suporte quebrado e, com dois movimentos, liberou a trava, retirou o estojo que inseriu no suporte novo, ativou sua trava e devolveu o conjunto montado. Em menos de um minuto resolveu a questão, nos ofereceu a mão num cumprimento, e nos despedimos agradecidos por sua gentileza.



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Terminada a manutenção da moto, chegou a hora do teste. Amanhã vamos para estrada, e saberemos como ficou.


 
trajeto de um dia de compras.

Manutenção em números:

  • Duração da manutenção: 4 dias

  • Serviços: 2 dias

  • Compras: 2 dias

  • Distância percorrida nos 4 dias: 128 km


Custos de manutenção:

  • Serviços: € 0,00

  • Peças: € 137,32

  • Ferramentas: € 37,39

  • Material de consumo: € 45,86

  • SUBTOTAL 2: € 220,57


Despesas Básicas (total de 5 dias em Hamburg):

  • Hospedagem: € 30,00 (faxina)

  • Alimentação: € 87,25

  • Deslocamento: € 38,92

  • Atrações: € 0,00

  • SUBTOTAL 1: € 126,17

 

Serviço:

 

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